27 dezembro 2006

eu vou correndo buscar a glória, minha glória

As luzes da cidade acenderam-se, o crepúsculo cresceu entre os prédios, dentro da noite veloz, e eu pensando em você. Como é que essas coisas acontecem? Coisa de doido pensar em alguém assim. Como a aranha para a mosca, você me sussurrou: “bem-vinda à minha teia”. Ou terá sido meu esse sussurro?

Esse amor está constantemente em cio debaixo da mesa, enquanto escrevo aqui. Não há cachaça ou “punheta” que me dê arrepio como esse.

É em noites como a de hoje que os amantes são atraídos pelos becos sem saída como os insetos tontos pela luz.


ps.: ao som de “Desculpe, baby”, dos Mutantes.

21 dezembro 2006

enredo


Sonho enredos para escrever o que se passa na minha cabeça todos os dias, mas esses enredos não chegam aqui. Anoto pensamentos, frases, tudo eu anoto. Em pedaços de papel, nota fiscal, cartão de visita, num folheto qualquer.

Quando você está comigo, cada palavra, até a mais imbecil, chega até o fundo de mim, e vivo com suas palavras e tudo o mais.

Têm dias que eu te vejo como um doce de creme. Açucarada, macia, e pronta para ser comida. Sei que quando sopro no teu ouvido, é infalível, 500 mil arrepios te percorrem o corpo, os bicos ficam durinhos e você não seguro o riso. Você é linda assim, tocando o meu corpo. Tudo o que eu quero é passar a língua em seu pescoço, nuca, as mãos te agarrando os seios… você transmitindo prazer sobre a minha pele.

06 dezembro 2006

mão na mão

Terrível é você mesmo se transformar em prisioneiro. Poucas pessoas escapam disso. Somos prisioneiros de nós mesmos. Fazer o quê? Foder até esquecer tudo.

Tem gente que vive a homossexualidade como uma dose de heroína. Não sei como é viver assim, nunca experimentei qualquer porcaria dessas. Só sei que tem gente que vive a sua "condição" sexual como se fosse uma droga mesmo. Independente da condição, o que tem é gente gulosa por aí. Gulosa e curiosa, pronta a traçar tudo o que for comível. Nunca fui assim. Não poderia. Sou romântica, levo um certo tempo, preciso me apaixonar. Não é pá-pum. Cada gesto sexual tem amor, tem carinho e comunicação. Eu faço amor para comunicar o meu amor.

Meu gênero é você. Mão na mão. Olhos nos olhos. Depois vem uma vontade enorme de dançar, de gritar, de amar, amar.

Passamos pela vida sem entender corretamente muitas coisas. "Há algum mal-entendido, e este mal-entendido será a nossa ruína", dizia Kafka.

Meu gênero é você.

28 novembro 2006

a coisa mais linda que existe

Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim

Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura

A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim

O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim

(a besta do Gil e o grande atormentado Torquato Neto)

tô me sentindo muito romântica. Piegas mesmo. Sem fim.

14 novembro 2006

era uma vez o homem que virava barril

Quando pequena, morando na minha cidade do Rio de Janeiro, costumávamos passar as noites de verão (mas só faz verão naquela cidade!) na rua. Pais, mães e (algumas vezes) os avós com suas cadeirinhas de praia, ou banquinhos de madeira, nos portões de casa. A criançada com pé no chão, brincando. Uma certa hora, minha bisavó, mais conhecida como "dona Sônica" (seu nome era Alcinda), aparecia, já com seus quase 90 anos e muitas histórias e causos para contar. A criançada e a adultada se reuniam ao redor dela para ouvi-la. Não é que havia um homem que virava barril? Isso mesmo: barril! O homem já não existia mais, mas havia morado na vizinhança. Era um moço que, dizia a minha bisa, nunca permanecia com os amigos até muito tarde na rua. Ele sempre inventava uma desculpa. Os amigos estranhavam, mas a vida seguia. Acontecia que, por volta da meia-noite da primeira noite lua cheia, passava sempre um barril rolando pelas ruas. Coisa de "assombração", todos diziam. Foi numa noite de lua cheia, os amigos reunidos na esquina da rua, quando o tal moço disse que precisava ir para casa. Os amigos insistiram para que ele continuasse ali, mas o moço foi pra casa apressado. Passado algum tempo, lá vem o "misterioso" barril rolando pela rua. Um deles acertou uma pedra que tirou uma lasca do barril. Inexplicavelmente (?), o tal moço apareceu com um braço quebrado na manhã seguinte. A vizinhança inteira, que já achava que existia algo de estranho naquele moço, jurou - de pé junto - que ele era o barril que rolava pelas ruas, em noites de lua cheia.

Essa história me foi contada várias vezes, durante a infância. Tento relatá-la simplesmente, usando um mínimo de literatura. Mas toda transcrição desse tipo de conto é inevitavelmente falha. Essa história só vive de viva voz.

30 outubro 2006

argila

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...

Raul de Leoni (1895 - 1926)

30 setembro 2006

página íntima e de auto-interpretação

Faltando menos que 1 mês para os meus 32, penso já - mas não desejo tão rápido - que me aproximarei da idade de Cristo crucificado. Não peço nada, só quero atravessar minha vida a pé, como se atravessasse um parque, um campo com muitas árvores e algumas flores, com um riozinho correndo. Eu disse que não pedia nada... Mas eu troco tudo isso. Basta eu encontrar você no caminho. Gosto de estar perto de você e entrar numa.

Ando terrivelmente inquieta. E cansada de gente treinada para ser evasiva e oculta. Gente tão sensível quanto uma porca velha. Com você eu encontro a leveza. Andando por aí, nas ruas, na praia, tomando café, folheando livros, falando sobre música, dançando na sala pouco iluminada, boca lasciva, olhos que giram em órbita, você vertendo seus fluidos como caldo quente.

Quem sabe o que é perigoso? Quando nos defendemos de nossos próprios medos e dúvidas, fazemos mal aos outros também. Tem quem precise de alguém, e a isso chame o nome amor. Que os céus permitam converter essa frustração em alguma coisa útil... Leia. Escreva. Escrevo e leio muito. Solto meus monstros. Antes um livro monstruoso que uma vida monstruosa. Não, não sou tão inteligente quanto tento parecer. Sou presunçosa. Mas não se engane, posso ser sua escrava sexual e, ainda assim, dominar você. Mas não se engane de novo, porque dominar os outros não me interessa. É a mim que eu tento dominar. Sei que sou paratática. Gosto de colagens. E tenho mais curiosidade sobre as pessoas do que a maioria jamais terá. A maioria se aborrece muito depressa. Eu me aborreço com atrasos. Vivo me atrasando. Ela sabe disso, eu sei. Ela sabe muito sobre mim. Sabe ser firme comigo quando é preciso. Sabe quando eu quero putaria... Ela é que me dá força, ela é que me dá asas, ela me dá em casa ou em qualquer lugar.

No metrô, a melhor coisa mesmo é ter um livro. São 18 minutos (contando com a baldeação) isenta de alguns males que assolam as pessoas. Se formos pensar em todos os males do mundo moderno, um vestígio de caspa, e sucumbiremos como ratos envenenados.

Será possível amar pessoas para sempre? Alguém que me inspire o amor, é capaz de inspirar o amor de outra pessoa. Não é crime. "O verdadeiro crime é fazer alguém acreditar que é a única pessoa que poderemos amar", disse o senhor Miller. Sim, é possível amar pessoas para sempre. Sem temer a posição dos astros, sem tempo, sem dia ruim, sem exigir o mesmo amor de volta, sem regulamentos. Clarice me complementa. "Ao passo que amar eu posso até a hora morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera".

Sim, todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Os posts de amor, como as cartas de amor, são ridículos. "Dizem que tô louca por te querer assim, por pedir tão pouco e me dar por feliz. Dizem que tô louca, que você manda em mim, mas não me convencem, não, que seja tão ruim".

Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas.

Ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. Que assim seja.


Todo dia massacramos nossos melhores impulsos. E é por isso que sentimos uma dor no coração sempre que lemos as linhas escritas pela mão de um mestre e as reconhecmos como nossas, como os tenros brotos que sufocamos porque nos faltava a fé em nossos próprios poderes, em nossos critérios de verdade e beleza. Todo homem, quando se aquieta, quando é desesperadamente honesto consigo mesmo, pode proferir verdades profundas. Todos derivamos da mesma fonte. Não há mistério quanto à origem das coisas. Todos somos parte da criação, todos reis, todos poetas, todos os músicos; precisamos apenas nos abrir, para descobrir o que já estava lá. (Sexus, Henry Miller)

05 setembro 2006

carta anônima

Para se ler ao som de Melodia Sentimental, de Villa-Lobos cantada por Olívia Byington

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.

Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?

Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.

Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.

Caio Fernando Abreu
O Estado de S. Paulo, 16/03/88
Pequenas Epifanias


<<<<<>>>>>

ps. esse texto é lindo e poderia ter sido escrito por mim, se eu estivesse doída e fizesse clack! De qualquer jeito, alguns escritores me tocam muito. Tocam de tal modo que não há mais nada que eu possa dizer.

25 agosto 2006

certos inocentes não escapam dos raios

CLEÓPATRA: Se for amor, mesmo, diz-me quanto.

ANTÔNIO: Será mendigo, qualquer amor capaz de ser medido.

CLEÓPATRA: Eu demarco até onde sou amada.

ANTÔNIO: Nesse caso, terás de descobrir novo céu, nova terra.

(Ato I, Cena I - Antônio e Cleópatra, Shakespeare.)

Um baratão de tragédia de amor. Me faz pensar no quanto o amor preenche os cheios e os vazios. E eu ouço segredos da madrugada. E sinto falta do teu corpo aqui, me esquentando nessa noite fria. Estou meio fora de mim, né? Redescobrindo o que eu sou. Talvez. Pode ser. Será que o segredo da harmonia é não falar? Falar pode atrapalhar a gente também. Falando, já pratiquei quatro dos sete pecados capitais hoje. Algumas vezes mostro um desinteresse que estou longe de sentir. Mas esse carinho imenso tem cor do céu com todas as suas estrelinhas.

Quer saber? Cleópatra gostava mesmo era de Otávia.

24 agosto 2006

demarcando território

Essa cena foi divertida. Clique aqui no YouTube e assista!

"De todos os animais que conhecemos é o cachorro o que mais se uniu a nós. Sejam príncipes que lhe dão farta comida e leito de plumas, ou mendigos que dormem ao relento e só podem oferecer-lhe uma pequena parte das suas próprias migalhas, idêntica é a sua afeição e dedicação, e com igual amor lambe a mão ornada de jóias e os dedos trêmulos, consumidos de doenças e fome."
(Théo Gygas, em "O cão em Nossa Casa")

15 agosto 2006

o amor tem os cabelos, os olhos, talvez até sapatos como os seus

Sim. Fazemos sempre amor... Isto é, todas as coisas que fazemos, em resumo, fazemos amor, entende? Se comemos estamos fazendo amor, se compramos um vinho e pensamos nela estamos fazendo amor, se olhamos para o céu estamos fazendo amor, ou se vamos dar uma volta por aí e se lemos um livro, se pegamos um filme para assistir... O amor, entende?

Quando a gente mora em cidade grande, olhando para as pessoas andando com muita pressa, dá a impressão de que todos procuram a melhor maneira de se esquecerem. Mas vem o amor, é agosto, e todo mês é terrivelmente romântico.

Tudo o que eu estava procurando está aqui, e eu nem percebia e fiquei dando voltas, todo esse tempo. Eu, nem mesmo por um momento, senhores (emprestado de Bethânia), me movi do quadrado traçado na terra que me foi designado e você o atravessou segura, vindo em minha direção. Orgasmos, alegria e um infinito carinho nessa loucura generosa que é o amor.

Também procuro sempre a harmonia, mas o foda é que me sinto tão desajeitada nessa procura ultimamente... Por que é mais fácil declarar-se contra ou a favor de alguma coisa do que explicar as próprias idéias?

Você me dá prazer de olhar, pensar e sentir. E eu não mudaria nada nisso. É isso que faz o amor: destaca um outro de todo mundo. Quero te beijar de perder o fôlego. Ocupar-me somente de você, proteger, entrar dentro de você, ouvir sua respiração. Palavras empilhadas. Você e eu. Eu com idéia de fazer amor contigo, tirar sua roupa em qualquer lugar nosso, passando sobre as palavras, indo até o fundo. Vem! Mais um pouco assim... tudo está girando... as ondas... olhos semifechados, saliva seca. Enquanto tudo começa a fugir. Enquanto tudo foge, as luzes se acendem e eu vejo você. Esse orgasmo é, antes de tudo, um abandono de mim, sem inibição, sem medo, na sua direção.

Estamos contando algo que somente nós sabemos e que só a nós interessa. Essa vida nos presenteia pessoas, lembra? Era inusitado e o inusitado nem sempre assusta. Coisas são difíceis de fazer enquanto não foram feitas.

Já não lembro de outra circunstância de minha vida em que o amor tenha acontecido assim tão profundo, assim tão essencial. Eu posso viver sem você, mas eu não quero. Todos temos opção. O momento em que podemos escolher o que fazer. Quando nada fazemos, isso é também uma opção. Há opção na falta de opção. Pego emprestada uma escrita de Fabrício Carpinejar: não admito essa covardia de escrever a própria vida sem assinar.

Vou te dizer em bom Português o que em Inglês se diz I love you.

"A palavra não serve só para criar confusão. Ela serve também para esclarecer a confusão que a palavra cria." (Ferreira Gullar)

01 agosto 2006

luar de manaíra, joão pessoa




Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Trecho de "lua adversa", Cecília Meireles.
Apaixonei-me pelos encantos desses lugares por onde andei... João Pessoa, Recife, Olinda... Encanto! Suas histórias, seus causos, suas pessoas. O Recife é lírico. Olinda me arrebatou. Vou voltar.

22 julho 2006

viagem e assombrações do Recife Velho


Essa aí é a Igreja da Sé, em Olinda. Estou há 20 dias passeando por Pernambuco e Paraíba, por isso é que não contei mais nenhum dos meus "segredos" aqui... Tenho histórias e observações pra contar. Farei isso com mais tempo.

12 junho 2006

por ser exato, o amor não cabe em si

Não é fácil organizar uma ordem de pensamento, uma harmonia. É simples, mas não é fácil. E talvez seja estúpido pensar no amor, quando o amor é somente você, somente você até a consumação dos tempos. Até a consumação da carne, mas um amor que pode prescindir do seu objeto, que encontra seu alimento no nada, soma-se a outras forças. Você sabe, tudo anda tão no ar... E o coração bate escapando em pedacinhos pelos sorrisos sem jeito. E a minha inclinação por sardas... Ela beija minha boca com vontade e eu afago seus cabelos macios e de finos fios. Gosto demais das minhas mãos nos cabelos dela.

Attention tout le monde! Eu li que a DC Comics está ressuscitando catwoman as a lesbian. Mulher-gato lésbica já vem sendo bastante comentada e foi assunto de página inteira no NY Times. Parece que a mulher atrás da máscara terá um affair com uma detetive de polícia. Cá com meus botões, catwoman nunca me enganou. Sempre achei que ela tinha que ter uma namorada. Já reparou naquela lambida dela?? Será que a "supermulher" está disponível?

E toda noite eu faço isso: pego um livro e fico lendo na cama até o sono chegar, mas quem disse que leio o que diz o livro? Meu pensamento é ela. A leitura é dos últimos dias passados com ela. A gente se gosta em todos os tempo: passado, presente e futuro. Lembrei de uns versos do Chacal, peraí: "tem um fio de vida entre eu e teu corpo". Quero isso ao som de um blues. Ou de Adriana Calcanhoto. Ou de Angela Rô-Rô. Ela dorme agora. Queria que ela acordasse, queria que ela me ouvisse. E que me ache genial, me ame, me meta, me tudo. Preciso dizer que esse amor que a gente faz me deixa melada feito quiabo.

E lembra aquele filme com Bogart e a Lauren Bacall? Das sessões do corujão para a turma da insônia. O Humphrey nos braços da Lauren e aquela cena fantástica(!) da cozinha. Lauren tonta de sono, de roupão, cigarro na mão. Humphrey espremendo uma laranja e dizendo "você já reparou que nas cenas de amor ninguém fala de amor? Você aqui, tonta de sono, eu aqui espremendo essa laranja e estamos em plena cena de amor".

"Por ser encantado, o amor revela-se."

Tudo continua tão no ar. Iraque, Irã, States, Brasil, Bolívia, Chile. Copa do Mundo. A décima edição da parada gay de São Paulo, a maior do mundo. A minha orientação. E esse nosso mundo moderno de furiosa individualização me transforma em alguém que eu não quero ser vezenquando. Sonho e pesadelo. Não é verdade que, quando se diz tudo sobre o amor que se sente, as coisas mais importantes continuam por dizer? E você acredita que nem no amor nem na morte pode-se penetrar duas vezes - assim como também não se pode no rio de Heráclito, aquele? Mas a disponibilidade de experiências "apaixonosas" talvez alimente a fantasia de que amar é uma habilidade que se aprende. Para mim, isso é uma ilusão. O amor é a vontade de cuidar, de proteger, afagar, mimar. E também de ser ruim até no que faço de melhor. Com você eu consigo errar mais do que com qualquer outra pessoa. Mas você é everything I always dreamt of in life. You mean for me much more than anyone I've met before.

"Por ser amor, invade e fim."



14 março 2006

eu quero enfeitar você

Absorvida na leitura de um livro sobre Wittgenstein e sentindo o aroma de café, penso nos três meses que levei para achá-lo em um sebo. Estava mergulhada na leitura do prefácio do meu livro quando ela me interrompe o pensamento. Vem ao meu encontro com trejeitos e gestos expressivos. Sinto-me feliz. Ela chama o garçom e pede a conta. E ri com riso tímido. E eu a quero inteiramente para mim.

Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos adivinhar aquilo que estamos vivendo. E é assim que compreendemos o sentido do que sentimos. E ela encoraja o meu interesse por ela. Ficamos "presas" uma a outra em momentos assim. Momentos que sempre existirão em mim, momentos que parecem sair do chão como feiticeiras de Macbeth, em que esse rosto dela com todas as suas transformações e a fala vão me invadir. Pode existir qualquer coisa mais importante que amar e ser amada? E correr os riscos do amor, vale? Não se arriscar é estar aprisionada em seu próprio corpo. Prevenir-se no amor é matar a capacidade de aprender com suas conseqüências. Vale a pena, sim. Mesmo que a canção diga que quando se ama se está sempre na plataforma de uma estação.

Bem posso, como quem ama, andar com os pés na terra e a cabeça no céu, com beijo de lábio de mulher, desejando com um amor possessivo, quase acidental. Amando, eu amo como ninguém no mundo amou. Ninguém conta as horas com ardor mais febril. Tudo é permitido: dizer tudo, tudo fazer, tudo ser, tudo experimentar.

Ela me disse que nunca se despira assim. Diante de mim, segura de si, surpresa por descobrir de repente gestos até então desconhecidos, ao tirar a roupa de forma lenta e embriagadora. Atenta aos meus olhares, amorosamente, saboreando cada etapa. Ela esperou que eu fosse em sua direção, que só houvesse lugar para as minhas carícias mais íntimas. Como poderia ser diferente?

O sexo nos subia à cabeça. Um número incalculável de corações batia em meu ventre. Minha língua buscava na noite salgada, na noite viscosa, na carne quente, na carne frágil. Sempre pensei que um dia ia tropeçar no meu tesão. Cheiramos. Percorremos. Mordemos. Esprememos. Lambemos. Todos os movimentos mais ondulantes e cadenciados. Sem-vergonhas. Retorcendo-nos. Atirando-nos uma na outra, confundindo nossos líquidos, nossos cheiros. Você me engravida de feminilidade. Eu logo sentiria as delícias do seu orgasmo. Assim. Assim. Assim. Assim. Assim...

Por instantes posso deixar de acompanhar as mazelas desse mundo para romancear a vida. Posso confiar em minha felicidade, confiar em meu amor, e me abandonar a essa agradável sensação conquistada, olhando-a em silêncio e tratando de verificar o que foi que aconteceu de tão bom.

Amor tem tantos gostos.
"... And now you're mine. Rest with your dream in my dream.
Love and pain and work should all sleep now.
The night turns on its invisible wheels,
and you are pure beside me as a sleeping amber.

No one else, Love, will sleep in my dreams. You will go,
we will go together, over the waters of time.
No one else will travel through the shadows with me,
only you, evergreen, ever sun, ever moon."


PABLO NERUDA. I crave your mouth.

P.S. Porque dia 14 de março é o Dia Nacional da Poesia.

17 fevereiro 2006

umidades

"Dear Clients, we express solidarity with the Islamic & Egyptian community. Carrefour don't carry Danish products." O Carrefour decidiu boicotar os produtos dinamarqueses em alguns mercados islâmicos. Não seria o "cartoon" burlesco característico da imprensa nos países onde há liberdade de expressão? A sátira tem restrições? Os cartoons são ofensivos, mas expressam liberdade? Os protestos são violentos, mas mostram grande indignação? Estão acumulando pólvora pelo planeta. Até agora não entendi qual o privilégio de sermos seres pensantes.

Em nosso próprio país não seria mau viver em paz. Pois não basta ter que aturar a perfídia de uns, as epidemias, as sêcas, a fome, as enchentes, a falta de uma boa educação, a saúde pública doente, as proezas do governo, da câmara, e tantas outras coisas que aborrecem e exaurem esse povo?

E nos cafés da cidade, mesinhas fora, mesinhas dentro, gente passando pela calçada e olhando pra dentro do café que olha de volta, e os caros na avenida, carros parados diante do café. E o café expresso da livraria Cultura!? Santo Grão. Santo café. São Paulo. Em meio ao clima mutante, à poluição e à agitação cultural, todo dia um motivo novo para experimentar e me apaixonar por essa cidade.

Bate a impressão de estar inventando recordações. E colorindo outras. Dando sabor. Vinho. Cor de vinho. E conversamos sobre livros, eu te falo sobre os apócrifos, o amor, a merda da política, o amor, a descrença no amor, o egoísmo, o amor, a velocidade das relações, o amor, os afetos, as enrolações, o amor, de mão em mão, o amor, de corpo em corpo. Só gostaria de olhar o acaso. Te contei como eu vejo as ondas? As ondas vindo cada vez mais fortes, uma após a outra, intervalos cada vez mais curtos. Nunca vou me cansar de sentir o mar.

De onde eu estou, duas coxas. Incidentes contornáveis. Incontornável mesmo é esse sorriso. Me vira pelo avesso... Mas as coxas cruzadas uma sobre a outra me trazem você. E me rasgam a alma. Preciso te encontrar. E ter esse sorriso que me acerta e é como se nada na vida pudesse estar fora de lugar. E, inventando minhas recordações, tenho a idéia de te levar qualquer coisa. Um presente. Penso se não seria careta fazer isso. Quando nos encontramos, qualquer coisa parece mínima diante desse sorriso sorrindo pra mim. Daqui a vários anos, eu vou olhar para trás e me lembrar desse momento, do dia, do minuto, do segundo em que eu me apaixonei por você. Você passa as mãos pelo meu rosto e me beija. Tudo é incrivelmente natural. Minha mão por baixo do pijama de algodão, acaricia o ventre e depois os biquinhos duros, respondendo aos meus carinhos. Quando você coloca sua mão sobre a minha, é uma sensação tão gostosa que fecho e aperto os olhos para ela nunca passar. O álcool faz maravilhas com as pessoas. Vulnerabiliza. Torna-as ainda mais sinceras. Intensifica. Sensualiza. Você tem poder maior que o álcool. E me introduzo em seus esconderijos. E derramo minhas umidades sobre você. As ondas. E estamos em paz. E eu não quero me livrar (parafraseando o poeta) "do prático efeito das tuas frases feitas, nem das tuas noites perfeitas. Perfeitas".


"Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser sem que me olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando."
(Pablo Neruda)

18 janeiro 2006

um verbo bateu dentro de mim

Não, essa noite não precisa. Tudo em mim é ternura. Tua boca tem gosto de vinho licoroso. O único que eu bebo. E é preciso habituar-se a não ter vergonha. Uma palavra tão feia para uma coisa tão doce. Sentimento subentendido? Não. Tudo claro. Quero que você me leve. Fada madrinha dos meus orgasmos, revolucionária, oficial da Marinha, depois pintora, depois protetora dos frascos e comprimidos, assassina, espadachim e, para terminar, musicista. Você nunca vai ser uma menina frágil e comum que se encontra em qualquer lugar. Tudo é incrivelmente simples e natural. E não é fácil te contar histórias com tua cabeça no meu colo, teu ar embaraçado. Lembra quando eu disse que é como se eu alcançasse o máximo da felicidade? E harpa, flauta, bandoneon. Porque minha vida ficou mais bonita com você. Porque o tempo com você é algo que se pode parar. Mil instantes. Para guardar entre nós como uma espécie de garantia.

Eu disse: “Venha me ver”. Ela veio. Colocou meu rosto entre as mãos e perguntou que mal havia em pensar que se isso durasse para sempre, no fundo, não seria tão ruim. Sabe, eu te digo desejar que, quando tudo for diferente, ainda persista esse desejo tolo.

Você acaricia meu coração como se fosse uma música.