21 dezembro 2005

com açúcar e com afeto

O cretinismo é o que caracteriza a história que estamos todos fazendo. Indigentes mentais. A estupidez, o valor que se dá ao que alguém tem ou ao físico, a superficialidade e a indiferença sustentam esse mundo que esqueceu seus valores fundamentais. Pessoas que desconhecem amizade, solidariedade, lealdade, o afeto desinteressado. Quem conhece? Importa ter. Importa parecer. Abismo. Pessoas sem referências. Um mundo sem referências que se desumaniza e vai em direção da barbárie, que é o que temos assistido de camarote. Por enquanto. Meio ácido o que escrevo. Eu sei. Mas não quero mais julgar as pessoas. Aceito-as. Gente não se julga.

Mas ainda encontro pessoas com afeto transbodando. Há uma busca em acertar. Temos capacidade de transformações e a História prova isso tanto quanto prova nossa estupidez. E ainda encontro corações marcados por uma ternura infinita.

Não vamos descuidar de nossas pessoas queridas. Não vamos nos descuidar.

Que o Natal seja de paz, família e sorrisos! Que ano de 2006 venha com todas as boas energias desse universo, que sejamos mais solidários, mais tolerantes. Saúde, muita saúde! Sejamos felizes, muito felizes!

Com açúcar e com afeto. Que 2006 seja doce... Que seja doce!

Um bom abraço e um beijo em todos vocês!

01 dezembro 2005

aquela chuva me queria chuva - quase transparente

Sim, eu tenho tido uma vida boa, comentando um e-mail teu do dia 27. O sentimento que eu dei e que dou, o que recebi e o que recebo, enfim, tudo isso faz parte de mim, da pessoa "eu" que construo ao longo desses bons anos. A porra é que, tudo parece estar bem, tudo parece estar caminhando, as pessoas parecem felizes ao meu redor, eu consigo fazê-las sorrir, eu consigo fazê-las amadas, respeitadas, contrario algumas delas algumas vezes, mas até isso faz parte do relacionamento. E eu não sou a melhor pessoa do mundo e nem gostaria de ser. E nem acredito que exista tal pessoa. E nem gostaria de conhecê-la. Pessoa assim deve ser um saco. E a pergunta é: como eu estou? Se nem eu mesma consigo dar uma resposta clara e precisa, quem poderia? O lado A, o lado que o sol alcança e onde as flores chegam na primavera, esse lado está aí, pra todo mundo ver. O lado B, esse só os olhos revelam e somente para as pessoas mais sensíveis e realmente interessadas nas pessoas. Mas eu sou lado A e B e talvez eu tenha mais lados do que todo o alfabeto e eles trabalham em conjunto.

E nada se perde. Mas o que se perde também te faz crescer. E ao mesmo tempo não se perde. Mas o que quer que seja que se possa perder também é bom. Pois eu digo que é bom também perder. Coisas são perdidas com o mesmo espírito com que são ganhas, pego emprestado de W. Whitman. Assumo o cinismo de quem perde mas pode se permitir isso. Assumo enfim o que tenho entre as pernas. E o que faço com isso. Mesmo o meu relacionamento com minha história pessoal. Assumo. E se eu falo de amor e fica claro que é por uma outra mulher, não há nenhuma apologia nisso. O meu desapego pelo pau não quer levantar nenhuma bandeira. Sublinha, sobretudo, liberdade. Desencanação. O apego é pela pessoa. Revela grande amor-conhecimento comigo mesma. E o momento afetivo e de amor é que conta. Dele nascem todos os outros modos de se estar junto, inclusive o sexual. E eu nisso tudo sou sólida e sã, líquida e pirada. Abraçada, grudada, imersa em um misto de sensações de frio na barriga e amor profundo, num desejo infinito de vencer todos os sentidos. Digo frases inteiras sem sentido também. Mas como são lindos aqueles olhos...

E em tudo o que eu faço, as pessoas que eu toco, fica um pouco de mim. E eu sei que não vou passar assim como verruga de criança. Sei que as pessoas que fazem parte de mim também não vão passar assim como passou uma verruga que eu tive, por alguns anos, no dedo médio da mão direita. Porque eu posso fazer o que eu quiser e ser como eu quiser e também posso não ser como eu quero. E todo mundo pode fazer e acontecer como quiser. John Lennon, em plena guerra do Vietnã, perto do Natal, espalhou outdoors por 11 cidades desse mundo com os dizeres: "THE WAR IS OVER! if you want it". Ele estava fazendo a parte dele, sendo o que ele queria, o mundo dele era o maior mundo para ele. E este é o maior para mim também: o mundo de mim mesma. Pode durar e nos ensinar alguma coisa, essa tentativa de ser mais simples? É muito bom poder mudar e crescer. Até quando tudo é tão vago como se fosse nada eu existo como sou.