20 abril 2011

era uma vez uma história acontecida

E certa vez eu tive meu primeiro beijo com uma garota ou deveria dizer que ela certa vez teve o primeiro beijo comigo. Era no tempo de festa junina... Foi quando estávamos em quatro garotas, sentadas uma ao lado da outra, no condomínio onde ela morava. A ordem era Simone, ela, Carla e eu. Ela tinha 13 e eu 15. E no meio de uma conversa entre as quatro, ela me chama pra contar qualquer coisa no ouvido. Carla jogou o corpo para frente para que ela e eu pudéssemos nos aproximar. E ela me disse “eu vou beijar você” e recuou lentamente a cabeça para trás, rosto colado ao meu, deslizando a boca do pé do meu ouvido até a minha boca. E tudo em mim parou. Simone e Carla falando em garotos e ela ali, entrando na minha história. Acho que mil expressões passaram por mim. Segundos em que o mundo parou para que eu sentisse aquela língua na minha boca. As duas sem jeito para o beijo e ninguém podia perceber. Tive vontade de abraçá-la. E o restante da noite se passou sem eu sequer imaginar o que elas falavam. Deviam falar ainda nos garotos. Eu só fazia “é”, “hum rum”. Eu havia tido meu primeiro beijo com uma garota e achei que nunca mais conseguiria sair daquele torpor. E me sentia tão mais velha do que ela. Quase uma criminosa por tê-la beijado de volta. Mas ela era tão adolescente quanto eu. Duas noites após aquela, eu não suportei. Inventei uma desculpa para as outras garotas, peguei a mão dela e a levei para as escadas do prédio. Parei logo no primeiro andar e eu a beijei. Com um desejo infinito de vencer todos os sentidos. Ainda tenho uma carta com um cacho dos cabelos dela.

É. Hum rum.

Há noites em que sinto a vida sem pressa de acontecer.

19 abril 2011

tedium vitae

A vida não é uma história em que cada minúcia encerra uma moral. Se assim fosse, seria irrespirável.

12 abril 2011

quase

Noite fria, e eu me sinto distante e então eu sinto uma saudade no peito, uma saudade de criança, e volto no tempo bem devagar, há 3 anos, há 10 anos, há 20 anos. Quase consigo aninhar as pessoas em meus braços.
Que vontade de escrever as sensações que sinto, palavras que pareceriam ridículas, simples demais e talvez você pensasse que escrevo por teimosia, só mesmo para existir. E não é que eu sinto algumas vezes a minha imagem perdida no espelho? Olho o meu reflexo e procuro a menina que fabulava histórias com bonecos de plástico e cadeirinhas de criança. Eu fazia novelas sentimentais bem atrás do pé de tamarindo. Uma árvore tão alta e tão idosa que teve que ser cortada pelo corpo de bombeiros. Mal sabíamos que aquela árvore era a força dos meus avós, da nossa família. Sem ela, ficamos menos nítidos.

A única realidade da vida é a sensação.
Fernando Pessoa

05 abril 2011

a indiferença nada mais é...

 

Autor: Elie Wiesel
A INDIFERENÇA NADA MAIS É QUE A INCAPACIDADE DE PERCEBER AS DIFERENÇAS.
É UM ESTADO ANORMAL, NO QUAL PERDE A NITIDEZ A FRONTEIRA ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO, A ALVORADA E O CREPÚSCULO, O CRIME E O CASTIGO, A CRUELDADE E A COMPAIXÃO, O TALENTO E A MEDIOCRIDADE.
ASSIM É A INDIFERENÇA!

Sobre o autor:
Elie Wiesel é um judeu nascido na Romênia e sobrevivente dos campos de concentração nazistas, que recebeu o Nobel da Paz em 1986 pelo conjunto de sua obra de 57 livros, dedicada a resgatar a memória do Holocausto e a defender outros grupos vítimas de perseguições.