21 dezembro 2005

com açúcar e com afeto

O cretinismo é o que caracteriza a história que estamos todos fazendo. Indigentes mentais. A estupidez, o valor que se dá ao que alguém tem ou ao físico, a superficialidade e a indiferença sustentam esse mundo que esqueceu seus valores fundamentais. Pessoas que desconhecem amizade, solidariedade, lealdade, o afeto desinteressado. Quem conhece? Importa ter. Importa parecer. Abismo. Pessoas sem referências. Um mundo sem referências que se desumaniza e vai em direção da barbárie, que é o que temos assistido de camarote. Por enquanto. Meio ácido o que escrevo. Eu sei. Mas não quero mais julgar as pessoas. Aceito-as. Gente não se julga.

Mas ainda encontro pessoas com afeto transbodando. Há uma busca em acertar. Temos capacidade de transformações e a História prova isso tanto quanto prova nossa estupidez. E ainda encontro corações marcados por uma ternura infinita.

Não vamos descuidar de nossas pessoas queridas. Não vamos nos descuidar.

Que o Natal seja de paz, família e sorrisos! Que ano de 2006 venha com todas as boas energias desse universo, que sejamos mais solidários, mais tolerantes. Saúde, muita saúde! Sejamos felizes, muito felizes!

Com açúcar e com afeto. Que 2006 seja doce... Que seja doce!

Um bom abraço e um beijo em todos vocês!

01 dezembro 2005

aquela chuva me queria chuva - quase transparente

Sim, eu tenho tido uma vida boa, comentando um e-mail teu do dia 27. O sentimento que eu dei e que dou, o que recebi e o que recebo, enfim, tudo isso faz parte de mim, da pessoa "eu" que construo ao longo desses bons anos. A porra é que, tudo parece estar bem, tudo parece estar caminhando, as pessoas parecem felizes ao meu redor, eu consigo fazê-las sorrir, eu consigo fazê-las amadas, respeitadas, contrario algumas delas algumas vezes, mas até isso faz parte do relacionamento. E eu não sou a melhor pessoa do mundo e nem gostaria de ser. E nem acredito que exista tal pessoa. E nem gostaria de conhecê-la. Pessoa assim deve ser um saco. E a pergunta é: como eu estou? Se nem eu mesma consigo dar uma resposta clara e precisa, quem poderia? O lado A, o lado que o sol alcança e onde as flores chegam na primavera, esse lado está aí, pra todo mundo ver. O lado B, esse só os olhos revelam e somente para as pessoas mais sensíveis e realmente interessadas nas pessoas. Mas eu sou lado A e B e talvez eu tenha mais lados do que todo o alfabeto e eles trabalham em conjunto.

E nada se perde. Mas o que se perde também te faz crescer. E ao mesmo tempo não se perde. Mas o que quer que seja que se possa perder também é bom. Pois eu digo que é bom também perder. Coisas são perdidas com o mesmo espírito com que são ganhas, pego emprestado de W. Whitman. Assumo o cinismo de quem perde mas pode se permitir isso. Assumo enfim o que tenho entre as pernas. E o que faço com isso. Mesmo o meu relacionamento com minha história pessoal. Assumo. E se eu falo de amor e fica claro que é por uma outra mulher, não há nenhuma apologia nisso. O meu desapego pelo pau não quer levantar nenhuma bandeira. Sublinha, sobretudo, liberdade. Desencanação. O apego é pela pessoa. Revela grande amor-conhecimento comigo mesma. E o momento afetivo e de amor é que conta. Dele nascem todos os outros modos de se estar junto, inclusive o sexual. E eu nisso tudo sou sólida e sã, líquida e pirada. Abraçada, grudada, imersa em um misto de sensações de frio na barriga e amor profundo, num desejo infinito de vencer todos os sentidos. Digo frases inteiras sem sentido também. Mas como são lindos aqueles olhos...

E em tudo o que eu faço, as pessoas que eu toco, fica um pouco de mim. E eu sei que não vou passar assim como verruga de criança. Sei que as pessoas que fazem parte de mim também não vão passar assim como passou uma verruga que eu tive, por alguns anos, no dedo médio da mão direita. Porque eu posso fazer o que eu quiser e ser como eu quiser e também posso não ser como eu quero. E todo mundo pode fazer e acontecer como quiser. John Lennon, em plena guerra do Vietnã, perto do Natal, espalhou outdoors por 11 cidades desse mundo com os dizeres: "THE WAR IS OVER! if you want it". Ele estava fazendo a parte dele, sendo o que ele queria, o mundo dele era o maior mundo para ele. E este é o maior para mim também: o mundo de mim mesma. Pode durar e nos ensinar alguma coisa, essa tentativa de ser mais simples? É muito bom poder mudar e crescer. Até quando tudo é tão vago como se fosse nada eu existo como sou.

10 novembro 2005

ali, onde os pêlos sobem da púbis ao umbigo

Quando eu estava sozinha, pensava nela, falava nela à meia voz e colocava a mão dentro da minha calcinha. E penso em quando estávamos deitadas juntas. Eu queria beijá-la, mas alguma coisa no estômago me impedia. Era como um peso, algo que eu não conseguia remover. Timidez também pode pesar. Peguei suas mãos e não pensei em mais nada. Continuava envergonhada, mas os nossos olhares tinham mudado. E a imaginação parece tão real... Com um gesto me descobre e tuas mãos percorrem minha pele (primeiro arrepio), com a língua entreabre meus lábios. Depois, ajoelha-se perto da cama e começa a me lamber feito uma gata tomando seu leite. (Segundo arrepio) Quase uma declaração. Uma daquelas que se diz à meia voz. Uma daquelas que quase não se usa mais porque poucas pessoas têm coragem. Uma felicidade molhada, explosiva, voz rouca, abafada e pronto! As costas se arcam como as de um gato. Causadora de todos os meus orgasmos. Revolucionária do amor.

Não sei por que escrevo. Só sei que escrevo. Pode ser que depois descubra o por quê e me venha um alívio. Falo do lado “de dentro” das coisas. O amor não pode ser subentendido. E que eu não me torne aquela pessoa que racionaliza demais, fica na defensiva e o medo se encarrega de cancelar tudo aquilo que pode ser natural e espontâneo. Pela dificuldade de sermos claras. Por esquemas idiotas de comportamento que castram qualquer tentativa de vida mais profunda e mais cheia de amor.

É que tudo parece tão frágil e tão banal. Muitas pessoas estão assim. São. Mas não desacredite. Não viva assim. Apesar dessa filosofia “liberada” e superficial que se vê, muita gente quer a clareza, desejos recíprocos, relações sexuais e afetivas. E eu desejo que a intenção profunda do nosso amor consiga sempre superar qualquer obstáculo causado pelo nosso egoísmo, por necessidades diferentes. E que a gente tenha sempre espaço uma para a outra. De descobrir, questionar, ouvir, mostrar o nosso mais inteiro.

Porque eu quero o olhar que toca, a conversa que abraça, a brisa do amor que nos cobre na cama. Te olhar mais profundamente. Somando tudo, que seja uma coisa bonita. Somando tudo, que seja espontânea e natural como deveriam ser todas as coisas. Peço apoio, peço afeto, lealdade e tudo aquilo que você pode e quer me dar. Peço também que você me peça tudo aquilo que precisar e eu não estiver vendo. Algumas vezes, mesmo sem querer, a gente simplesmente não vê. E seguiremos descobrindo juntas maneiras novas de amar do mesmo jeito antigo, vivo. Paciência. É preciso muita paciência também. Para amar sem castrações, sem perplexidades ou incertezas, cancelar todos os bodes mesmo. Mas sem fugir deles sem enfrentá-los. Nós duas. Nos tocando, dizendo o que cada uma sente. Livremente. Levemente. Leve... Nunca vou me habituar a viver de uma maneira babaca.

A chave gira na tua fechadura. A porta se abre. Eu. Então abro os braços, dou um sorriso e topo qualquer parada.

18 outubro 2005

na medida mais (im)precisa que eu puder

Ainda que alguém diga que os óvnis param na Terra para abastecer-se de nitrocarbono. De repente, uma vontade de benzer-me pedindo proteção, mas e se Deus morreu em Auschwitz, talvez no Vietnã, e se? Ainda que alguém contasse que um padre jesuíta provou a existência de Deus. Ele descobriu 102 deles usando uma lente telepática. Ainda que os melhores momentos da vida voem.

Hum rum.

Essa semana eu completo 31. Lacan gostava de dizer que tinha 5 anos. Aos 5 anos a pessoa tem um querer direto, sem intermediários. Nada do querer reivindicativo dos 15, e do querer conforme as regras da idade adulta. Mas eu não tenho jeito. Sou uma romântica incurável de 1930, aos quase 31.

Encontro é descoberta. Reencontro é descoberta. Idéias e sentimentos podem despencar ladeira abaixo. E amadurecem também. E é bom mudar de idéia, fazer de novo, fazer diferente. Igual. Porque eu estou para o que der e vier. Desconstruir, construir, mudar de ares... Muita confiança, muito amor, o sol, a lua, calcinhas, noites em claro, garrafas de vinho do Porto, vontade de ficar juntas, de abraçar e de se amar à tarde, com o calor doido, pela manhã, madrugada. Uma coisinha minha, nossa. E viver junto das pessoas com as quais eu tenho vontade de continuar a viver e avançar.

Você já sentiu atração por pessoas do mesmo sexo? Ah, sim, o chuveiro ajudou.

Eu quero é seguir tranquila com tudo, como se não existisse no mundo nada que possa ser vergonhoso ou perturbador. Gozar a vida. Literalmente. E é como se, no orgasmo, a gente alcançasse o máximo da felicidade, a felicidade absoluta. É uma sensação violenta e doce, de quase se perder e palpitar juntas. Minha mulher e eu.

Talvez eu não possa descrever algumas sensações. Mas posso falar da sensação dominante que a gente sente quando vai chorar. Uma coisa que mistura ternura, ansiedade e alívio. Como quando se chora sem estar triste. "A trepadinha nossa de cada dia nos dai hoje" é gostosa, mas quando estou amando, sobretudo - e na verdade, somente - o corpo se comporta assim sem a colaboração do cérebro.

Eu quero sempre ser assim. Nem demais, nem de menos. Mas amar, eu amo sem medida.

Queria escrever sensações. Como é que se faz?

"Ninguém mais, amor, ocupará meus sonhos.
Você irá, iremos juntos, através das águas dos tempos.
Ninguém mais atravessará as sombras comigo, só você.
Sempre verde, sempre sol, sempre lua."
(Pablo Neruda)

23 setembro 2005

certa vez eu tive uma garota ou deveria dizer ela certa vez me teve

Me lembro de uma mulher que conheci que quase vomitava só com a idéia de dar uma chupadinha na sua melhor amiga. A pessoa não é o sexo da pessoa com a qual se deita. A pessoa simplesmente é. E quem vai olhar diferente se eu disser que, nestes dias de merda em que o mundo parece estar mergulhado, o teu sorriso, as tuas palavras e os teus seios são as coisas mais bonitas que eu já recebi? Nunca me envergonhei de dizer que amo. Porque a vida é breve, sim. Porque sei que não serei a primeira mulher, então prefiro ser a única. A única que.

E eu sou a minha história. Dentro dela, outras. E se não escrever com auto-consciência, minhas palavras não vão me servir, não terei lugar nessa história nem na existência. E se é o pau que faz história, eu também tenho o meu. Sacanagem, saca? E se o pau é uma coisa em si e a outra entidade (que eu e todas as mulheres temos e que até bem pouco tempo - e ainda acontece nos dias atuais - não se olhava, não se tocava, não se nomeava, que devia ser conservado tão impoluto que quase deixava de ser nosso) é uma entidade de si, a masturbação é, então, uma coisa para si. E se nem toda masturbação termina em orgasmo, fica interessante o pensamento de que vivo comigo mesma um casamento clássico. Mas não quero luxo nem lixo. No fim dessa conta, é gostoso transar com meu corpo numa boa.

E certa vez eu tive meu primeiro beijo com uma garota ou deveria dizer que ela certa vez teve o primeiro beijo comigo. Foi quando estávamos em quatro garotas, sentadas uma ao lado da outra, no condomínio onde ela morava. A ordem era Simone, ela, Carla e eu. Ela tinha 13 e eu 15. E no meio de uma conversa entre as quatro, ela me chama pra contar qualquer coisa no ouvido. Carla jogou o corpo para frente para que ela e eu pudéssemos nos aproximar. E ela me disse “eu vou beijar você” e recuou lentamente a cabeça para trás, rosto colado ao meu, deslizando a boca do pé do meu ouvido até a minha boca. E tudo em mim parou. Simone e Carla falando em garotos e ela ali, entrando na minha história. Acho que mil expressões passaram por mim. Segundos em que o mundo parou para que eu sentisse aquela língua na minha boca. As duas sem jeito para o beijo e ninguém podia perceber. Tive vontade de abraçá-la. E o restante da noite se passou sem eu sequer imaginar o que elas falavam. Deviam falar ainda nos garotos. Eu só fazia “é”, “hum rum”. Eu havia tido meu primeiro beijo com uma garota e achei que nunca mais conseguiria sair daquele torpor. E me sentia tão mais velha do que ela. Quase uma criminosa por tê-la beijado de volta. Mas ela era tão adolescente quanto eu. Duas noites após aquela, eu não suportei. Inventei uma desculpa para as outras garotas, peguei a mão dela e a levei para as escadas do prédio. Parei logo no primeiro andar e eu a beijei. Com um desejo infinito de vencer todos os sentidos. Ainda tenho uma carta com um cacho dos cabelos dourados dela.

É. Hum rum.

E tem noites em que sinto a vida sem pressa de acontecer.

canções de fundo: "Miss Q'n" (Zap Mama), "Seven days in Sunny June" (Jamiroquai), "I'd rather dance with you" e "The girl from back there" (Kings of Convenience), "O vento" (Los Hermanos - 4)

13 setembro 2005

conexões inesperadas e misteriosas e minhas asas crescem

Em 11 de setembro de 2001 começaram as grandes invasões bárbaras, com mais de 3000 mortos no WTC. Historicamente é insignificante. Para citar um exemplo americano, morreram 50 mil pessoas na batalha de Gettysburg (de 1 a 3 de julho de 1863), mas o significativo é que, em setembro de 2001, o coração do império foi atingido. Nos conflitos anteriores, Coréia, Vietnã, a guerra do Golfo, o império havia conseguido manter os bárbaros além de suas fronteiras. Nesse sentido talvez nos lembremos, e insisto no talvez, de setembro de 2001 como o começo das grandes invasões bárbaras.

Não sei se me classifico como anarquista, como comunista, como capitalista ambiciosa e puritana ou como socialista voluptuosa. Talvez voluptuosa seja insuficiente... libidinosa, libertina. E posso ser mandada ao inferno por isso. Condenada a tocar harpa eternamente, sentada entre João Paulo II e Madre Teresa.

A rigor, Marx era um burguês que comia as criadas, às escondidas.

Freud, metade homossexual, incapaz de comer a mulher aos 40, loucamente atraído pelos pacientes. Corre por aí que suas discussões com Jung não passavam de histórias com mulheres. De histórias de sacanagem.

Acho que os criadores das teorias sobre a sexualidade elaboram sua teorias em casas de massagem, açoitados com toalhas molhadas.

E a população despreza suas próprias instituições. E o governo dá o exemplo. E a degeneração de tudo. E não consigo enxergar um modelo de sociedade do qual posso dizer "é assim que eu gostaria de viver". Seja um plano místico ou santo, é quase impossível moldar a minha vida a partir de um exemplo à minha volta. E eu mesma não sirvo de exemplo para ninguém.

A ciência nunca se desenvolveu tanto, a vida nunca foi tão boa, mas vivemos nesse processo geral de dissolução da existência. Haverá salvação?

E amar é simples. O coração é um gráfico. E o coração humano se parece com um punho fechado envolvido em sangue. And there's a moment, there's always a moment, "I can do this, I can give in to this or I can resist it".

E em noites como essa eu me sinto beirando a marginalidade. Uma das cavaleiras do apocalipse dorme em mim.

E essa idéia de que se aprende pela dor, veio de onde mesmo? Papo de merda. A dor não precisa ser professora de ninguém. E o barulho que tentava me envolver já diminui com mais vontade. E eu ouço esses sussurros suaves vindos de dentro de mim. E me descubro de novo ou me descubro outra pessoa.

E quando eu encontrei um grande leão-da-montanha, sabe o que eu fiz? Fiz de tudo para parecer maior.

E eu não perco a minha afetuosidade. Cuidado e carinho independem da cama, da saudade, do rumo que damos as coisas. E domaremos nossos dias. Um dia de cada vez.

Tudo tem cheiro bom essa noite. Até a cor.

27 agosto 2005

meu amor, minha flor, minha menina, solidão não cura com aspirina

Para viver também é preciso certa loucura.
E sigo atravessando cotidianos-labirínticos-coloridos. E não vou distraída nem tenho disfarce algum. E tanto que eu quero dizer, mas não cabe aqui. E minha janela escancarada para a noite enorme lá fora. E céu, planetas, constelações, objetos não-identificados. E será que consigo avistar Órion? Betelgeuse, Alnilam, Bellatrix. Só quero estender a mão e tocá-las.
Não fico para sempre perdida entre representações de coisas que ficaram perdidas no tempo. E o que se perde no tempo leva junto a sua própria existência. E é fácil continuar se perdendo no que deixou de ser você.
Mas de alguma maneira é preciso reagir ao que acontece à nossa volta. Até mesmo porque a não-reação seria ainda uma forma de participar, de permitir que a coisa aconteça sem interferir. Mas todos temos o direito de falhar.
E tudo é tão. Tão imediato. Tão agora. Tão já. E não é. Um bichinho arisco desses. Coelho, borboleta, pirilampo.
E eu queria ser física, astrônoma, não sei, ou só pirada mesmo. Que eu queria.
Que a definição romântica do amor está decididamente fora de moda. É foda! Que as experiências às quais pessoas se referem com a palavra amor expandiram-se muito. Que essa cultura consumista que é a nossa, industrializa relações prontas para o uso imediato, o prazer passageiro, nada com muito esforço, receitas testadas, garantias de seguro total, devolução do dinheiro. Sim, porque "pessoas-balsa-com-um-marinheiro-inexperiente", criadas na fabulosa era dos acessórios, não querem a oportunidade de aprender a arte do reparo.
Não, ainda assim eu não consigo me livrar desse ímpeto romântico de ver as coisas. Nem da minha filosofia barata. Tenho um coração maior que o mundo. E só eu vejo o mundo com meus olhos.
Quem sabe, Betelgeuse, Alnilam, Bellatrix.
Antes de seguir meu caminho, abro devagar e totalmente os meus braços para depois fechá-los arredondados, tocando as pontas dos dedos de uma das mãos nas pontas dos dedos da outra. Como se faz para abraçar uma pessoa.

... e eu digo calma alma minha
calminha
você tem muito que aprender...

(Zeca Baleiro, Alma Nova)

19 agosto 2005

vê se ao menos me morde, mas não me mastigue assim

Sexta-feira, mas não é santa. Não acredito em pecados. Nem em culpa. A culpa não existe. Não sou católica. Eu sei que gostarias, mas não vão te colocar na cruz. Nem é sexta-feira da paixão e nem sexo. Pra quê essa frescura toda? Pra quê pudor? Jura no meu ouvido que não existe outra como eu. Me morde os ombros, me molha de saliva e encontra logo a minha boca. E me veio aquela coisa mole, frouxa, aquela coisa, aquelas coisas. Uma ou duas hoje, meu bem? De outros jeitos, de todos os jeitos. Penso. Descubro. Me desvenda. Continuo pensando. Olhos fechados, a cabeça abandonada entre as minhas pernas. A língua deslizando devagar. Olhos fechados. Acabei de me masturbar. Não lavo as mãos para começar a escrever. Continuo o post? Não sei, mas não tenho o que temer. A noite de hoje tem o centro escuro, mas eu estou falando bobagem. Não são todas as noites escuras? E o meu próximo movimento só pode ser em direção à claridade do dia. Eu vou ser o sol. Levo o sol tatuado no pulso direito. Ele anda comigo por aí. Vai como quem diz "confio em você". Já esteve em muitos lugares comigo, e diante de pessoas também. Foi íntimo até. Nunca foi quase. Eu não sou uma pessoa de quases. Quase-verdade, quase-surpresa, quase-amigos, nada de intimidades, quase-amor, quase-rio, quase-choro, quase-desespero. Nunca sou quase. Inteira, isso é o que eu sou.
Tudo bem, descanse. Talvez consiga dormir. Me deixa passar as mãos pelos teus cabelos. Em voz baixa, eu canto pra te ninar.
Comecei a escrever sem saber o que dizia, e não parei. As palavras me escrevem. O que invento ou o que não invento me ultrapassa. E tem asas. E me dá asas. Hoje e sempre, amém.
Agora também.

05 agosto 2005

não sou desistida. sou é agora mesmo!

Estava pensando no Carlos Drummond, quando ele fala do "humano para humano". Que amar o humano do outro é aceitar e amar o meu próprio humano. É assim que eu posso crescer, e eu quero crescer. E quero sempre acreditar. Posso levar porrada, mas ainda acreditar e ter mais delicadeza para olhar as pessoas, as coisas, qualquer coisa.
A saber, meu pensamento vem quando ele quer, não quando eu quero. E eu não consigo parar de pensar. Fico pensando, pensando, não tem como desligar.
Mais uma dose? É claro que eu tô a fim... A noite nunca tem fim. Por que a gente é assim?
Aqui, bem do lado de cá da tela, eu estou. Mas onde estou? Reflito. E é uma pergunta que não tem sentido, pois eu sei qual é a resposta. Aqui é a minha vida. Aqui é um lugar em que, tendo eu aprovado ou não todos os fatos e circunstâncias, elas são parte da minha existência. E enquanto cai a madrugada, eu observo a noite e reflito sobre o que é me sentir fazendo parte de algo. Como é?
O quê? Não, eu não sou uma pessoa estranha. Não posso dizer que sou uma pessoa comum, mas não sou estranha. Eu vivo a meu modo. E tento estar sempre no “tempo da delicadeza”. Desconfio de equívocos neste mundo. Acho mais que existem apenas diferentes modos de pensar.
O quê? Se eu acredito em constância? A vida e todas as coisas passam, é quase tão certo e garantido quanto a paisagem correndo na janela do trem. Mas eu posso pensar diferente quando acordar. Vai sempre sobrar, faltar alguma coisa. Eu não sou perfeita.
E eu quero sempre o amor e as cores livres, coloridas.
Quer saber? Não me preocupa. O que não for é o que vai passar.


"Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?"
("Para uma avenca partindo" - Caio Fernando Abreu)

26 julho 2005

quem anda me comendo é o tempo***

Entre livros técnicos, ando lendo romances onde discutem a psicanálise e a filosofia, lendo livros que misturam a neurociência com a filosofia... Descobrindo escritores e leituras que me dão ainda mais prazer em ler. E eu quero fazer uma mistura do que ando lendo aqui e agora...
Nietzsche uma vez escreveu que a maior diferença entre o homem e a vaca era que a vaca sabia como existir, como viver sem angústia – isto é, sem medo – no bendito presente, sem o peso do passado e a preocupação com o futuro. Mas nós, humanos “infelizes”, somos tão perseguidos pelo passado e pelo futuro que só podemos passar rapidamente pelo presente. Eu não discordo dele. Só discordo da parte onde ele diz “somos tão perseguidos pelo passado”. Tem o outro lado da moeda: nós perseguimos o passado. Nem todo mundo faz isso. Nem sempre. Mas acontece.
E penso e repenso as relações. A fragilidade dos laços. A misteriosa fragilidade dos vínculos, o sentimento inspirado, o apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los soltos. É isso que eu quero entender melhor. O que leio e, sobretudo, o que eu vivo me ajudam. E fico pensando em como eu gostaria de ter feito psiquiatria. Nesse caso, eu queria ter feito doutorado em filosofia.
Mas o principal herói deste post é o relacionamento. Seus personagens somos nós. Alguns em situação complicada por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis. Pessoas que buscam a segurança pelo convívio e por alguém com quem possam contar num momento de aflição, de angústia, de necessidade de carinho. No entanto, desconfiamos do “laço permanente”, talvez com medo dessa condição. De não estarmos aptos ou dispostos.
Todo mundo gostaria de ter uma solução pronta: comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo. Mas a maioria não quer perder a “liberdade” de buscar relacionamentos de bolso. Sim, aqueles do tipo "pode dispor quando necessário". Bacana poder viver assim, né? Que nada. “Essa onda que tu tira, qual é? Essa marra que tu tem, qual é?” Acabam “tirando onda com ninguém...” Qual é? Deixar todas as portas abertas pensando em outros investimentos é vazio demais. Ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém.
Não, isso não tem nada a ver com levar uma vida “estilo Schopenhauer”. Nada de evitar pessoas. Pensar nelas como bípedes e na teoria do porco-espinho pode ensinar coisas bacanas, mas quero empinar pipa também. Quero rir muito de qualquer coisa e ser boba! Eu quero acreditar sempre! “Estamos todos na sarjeta, mas alguns estão olhando para as estrelas”, já dizia Oscar Wilde! Voltando ao nosso Schopenhauer, quem disse que ele era pessimista? O cara tinha era uma fortíssima veia cômica! E como o meu sorriso é lindo!

“... Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante...”.
(Caio Fernando Abreu, "Os dragões não conhecem o paraíso")


*** Título inspirado em Viviane Mosé.

08 julho 2005

assim ventou qualquer calmaria

É uma madrugada agradável de Julho. Venta lá fora. Aqui dentro, eu vento. Me sinto vento. Estava pensando em como somos o que queremos. Outra noite eu era uma constelação.

Voltando... O que é o vento? É ar. Ar em movimento. A vida não é isso? É como o vento: sempre existe. Pode não ventar onde você está me lendo agora, mas o vento está em algum lugar. Muitos outros lugares. Eu sou vento e vou ventar a vida inteira. Fraca, quase um sopro. Forte, ventania. E pensamentos ventam sempre. Estou pensando em gente. Engraçado, quando alguém é acusado de uma falta, é quase impossível esperar que a falta seja comprovada para acreditar nela. Já quando as pessoas contemplam a si próprias, elas têm certeza de que são ótimas pessoas, animadas e de alma imortal.

So what? Tem gente tão alienada em si mesma que nunca pensa em olhar para dentro, preferindo surfar na superfície da vida. Pergunto de novo: so what? Eu sou do partido que acredita que todo mundo tem bom coração até que me coloquem na frente um motivo para desacreditar.

A mariposa continua sendo atraída pela chama, mesmo depois de ter chamuscado as suas asas.

Sigo meu caminho. Vou contando as letras a cada esquina, contando os passos. Minhas palavras misturadas contém segredos de liquidificador.

Me permito ter consciência de mim mesma. Nada de viver desesperada porque a vida acaba ou porque não tem outra finalidade maior. Eu acredito que isso aqui é uma escola. O mundo como o conhecemos. Que eu sou herdeira de mim mesma. Acredito em uma finalidade maior, sim. Mas não nesse conceito de um criador onisciente para o qual se dedica a vida a um ajoelhar-se sem fim. Isso parece sem sentido. Melhor aceitar a solução do cientista e do filósofo: apenas inclinar a cabeça e bater no chapéu para as elegantes leis e mistérios da natureza, mas tratar de viver.

Por que correr para a porta da saída antes da hora de fechar?

Fico com Nietzsche: é preciso escolher a sua vida - é preciso usufruí-la em vez de ser usufruída por ela.

Agora. Antes. Depois. Vento palavras e misturo tudo. Mistura tudo. Mistura eu.
A palavra mariposa me lembrou um blog que eu gosto, por isso o link para ele.

01 julho 2005

espaço e tempo: a hora da estrela

E se o tempo não for uma linha rígida?
E se fosse possível dobrar espaço e tempo de forma que o presente ficasse lado a lado com o passado?
Nesse caso não seria necessário voltar, mas apenas dar um pequeno salto.
Essa hora que pode chegar alguma vez fora de toda hora, buraco na rede do tempo, essa maneira de estar entre, não por cima ou por trás, mas entre.
Da incontável vida com suas horas de frente e de lado, seu tempo para cada coisa, suas coisas ou nossas coisas no preciso tempo.
Tempo, mano velho...
Para que buscar mais nomes, mais ciclos quando há estrelas? Porque de algum modo é preciso começar a segui-las, a crescer.
Eu sou uma estrela!
O carbono é fabricado no interior das estrelas. Nós somos os restos mortais de uma estrela. Todos nós somos um punhado de poeira estelar.

Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver da onde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
E os meus passos nunca mais seram iguais

Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda dor pra trás
Perdida num planeta abandonado no espaço
Volto sem olhar pra trás
No escuro do céu mais longe que o sol
(Busca Vida, Paralamas do Sucesso)

Quando estamos deprimidos, as pequenas tarefas parecem além de nossas capacidades. Contudo, quando experimentamos a felicidade, sentimo-nos capazes de tudo.
Todos somos surpreendidos por sentimentos que não conseguimos dominar. Fato é que algumas vezes gastamos muito tempo combatendo nossas emoções, tentando reprimi-las ou evitando que o mundo as conheça.
Bobagem!
Eu gasto muito tempo algumas vezes. Outra bobagem. Mas estou aprendendo a conhecer melhor o meu ritmo. E descubro como a minha vida flui, ela não se apressa.
Cada um de nós é infinitamente capaz.
Tudo que temos que fazer é acreditar em nós mesmos.
Eu sou uma estrela.
Essa noite, eu sou uma constelação.

23 junho 2005

pirueta petulante de pensamento

Se tivéssemos informação suficiente para prever as conseqüências de nossas ações... Gostaríamos de ter essa informação? Se você beijar aquela pessoa, se falar com aquela outra, se aceitar aquele emprego, se você se casar com essa pessoa, se fizer aquela viagem ou se aceitar aquele convite. Se puder saber o que vai acontecer no final, seria capaz de dar o primeiro passo, de fazer o primeiro movimento? Teria coragem para o amor? A maioria, no fundo, quer amar o que amaria – e não o que é. Porque a maioria ainda não é ela mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele.

Eu não iria querer ter essa informação. Se eu soubesse que as coisas aconteceriam de um jeito diferente do meu desejo, não daria o primeiro passo, daria? Sim. Mas se algo nos assusta, fugimos. É instintivo. Somos gente! Dura tarefa! Mas eu continuaria com qualquer coisa bela em minha vida. Não sou da tribo que faz do viver pura aceitação, inclusive a aceitação de não aceitar nada, de sair quase antes de chegar, de matar tudo o que ainda não é capaz de matá-la. Coragem é um hábito! É preciso praticar.

Não, eu prefiro não saber. Não teria graça. Eu prefiro saltar a bordo como se fosse a primeira viagem. Viver é como amar, um salto sem rede. E só assim vale a pena. Escolho o imprevisto. Dorme, amor, nos meus braços. Como se eu fosse a primeira.

De qualquer maneira, sabemos o que desejamos que aconteça.

Desejo que uma noite dessas seja quebrada por um instante à passagem de uma estrela cadente.

Tudo é possível, não há nada que se possa deter. O que era impossível acaba de acontecer.

14 junho 2005

estravagario, navegações e regressos* sobre um post vivo antes de anunciado

Vou falar de amor. Sentimento. Das relações amorosas.
Conversavam sobre o amor. O amor que une duas metades ou que une dois inteiros. Falavam que há sempre um generoso e um egoísta. Dominante e dominado. Dois opostos. Tanto faz. Que relacionamento assim, onde um serve para o que o outro não serve, é baseado na inveja. Que não é bom. Que fica a incompletude.
Alguém já sentiu completude?
Eu acredito na via de mão-dupla. Na generosidade sem acumular pontos. No respeito. Na necessidade de me aproximar como pessoa. No convívio tendo esse resultado. Assim como os que conversavam, não acredito no euteamo guarda-chuva. Não acredito na casca contando mais que o miolo. É efêmero demais.
Sexo é muito bom, mas “dar não é fazer amor, dar é dar”. (and if you're chasing after people like these you’re sitting on some pretty major issues, buddy)
Tudo bem, ninguém aqui tem que ser gênio, ter extraordinária capacidade intelectual para justificar a vida.
A idéia de que somos todos substituíveis não me convence, mas é como eu sinto as coisas acontecerem freqüentemente. Ama-se uma, depois outra. Mas fica a certeza de que um relacionamento pode ser renovado, pouco importando contratempos e brigas, porque, pense comigo, ninguém permanece igual. Nisso pode estar a eternidade. Nessa conquista cotidiana. Nas pessoas renovadas que somos a cada dia.
Ou será tudo mesmo transitório e efêmero nessa fugacidade moderna que se vê por todos os cantos? Será a vida um sonho, um momento, um segundo, um eu não sei? Eu não sei. Mas não há momento em que eu não olhe para trás com um sorriso no rosto. Isso é bacana.
Ninguém pode me impedir de sentir. Só mesmo a falta de sentimento. Eu não conheço bem esse sentimento de não sentir. Porque tudo em mim grita. Sou minha vida escancarada! Essa vida que eu tenho. Esse caminho que eu sigo e do qual sou a única responsável.
Uma amiga minha escreveu que “as pessoas são superficiais porque perderam a coragem de viver o profundo. Não sabem o quanto é bom!! Contentam-se com a excitação porque não sabem o que é o orgasmo". Ela não está sem razão. São tantos os fatores: psicológicos, fisiológicos, tecnológicos, globalógicos... chamamentos que iludem quem gosta de ilusão. Nesse caso, sim, o profundo que conhece não mede mais que alguns centímetros e cabe na x-x-t- e na boca. Cabe no imediatismo de quem mal pode esperar para se afogar em agonia. Pode ser maravilhoso para alguns fins de semana, mas não sei como poderia ficar “in the long run”. Não cabe no sentimento, no que vai dentro, no que sustenta a vida, no que fica.
Eu falo aqui de realmente acreditar. Quando sentimentos têm força maior que o seu controle e te fazem perceber alguém que te traz felicidade além do que você pensa. Quando você experimenta sentimentos que achava somente nos livros.
So what? Cada um que cuide do seu umbigo.
Contudo, a cada dia me fica mais claro que a vida pode ser mais leve e mais simples. Sem polinômios. Sem profundos centímetros. Descomplicada. Porralouquices e altas indagações são ótimas, mas é preciso estrutura.
Necessitamos aprender certas coisas e reaprender outras. Necessitamos reaprender nós mesmos.

"Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver" (Linha do Equador, Caetano Veloso)

* Estravagario e Navegações e Regressos são livros de poesias de Pablo Neruda.

08 junho 2005

sobre o que eu faria se eu tivesse um pênis e outros "sacos"

Essa é uma das teorias mais polêmicas de Freud: a inveja do pênis.
Eu ouvi esse assunto hoje. Nunca me tirou o sono.
Você gostaria de ter um? Pegá-lo, brincar com ele, quem sabe?
Como parte do meu corpo, não. Talvez mijar em tudo, em qualquer lugar. Abrir o zíper e pronto. Alívio.
Hum, tocar um monte de punhetas! Isso poderia ser divertido!
Ainda que possa ser interessante, para o dia-a-dia ter aquilo roçando no meio do caminho não seria tão agradável. Não, nem um pouco.

Eu adoro a feminilidade. Adoro ser uma mulher e amar outra mulher. Não optei por isso. Ninguém me trouxe o menu. Não é uma escolha gostar dele ou dela. A única escolha é ser feliz ou não. Hoje, se me trouxerem o menu dizendo que eu posso optar, eu continuarei sendo uma mulher que ama outra mulher.

Se os homens têm uma porção feminina, eu tenho a minha porção masculina. Que atire a primeira pedra a mulher que não a tem. Quer saber o que eu faço com a minha porção masculina? Seguro meu pau com firmeza!

Nada de tabus. Sexo reprimido. A penetração excita? Sim! É tudo? Não!
Fora de mim, dentro de mim, embaixo ou em cima, eu quero a minha mulher. (hum, feromônios agindo)

Nada contra os homens! Nada mesmo! Absolutamente! Só deixo claro que tomo posse da minha sexualidade. Do meu desejo. Eu sou dona da minha libido.

Faço parte do único "grupo social" que dispensa o pênis/homem para ter prazer. Interessante, não é?

Mas se eu pudesse ter um pênis só por um dia, o que eu faria com ele?
Não, você não quer que eu responda a essa pergunta!

02 junho 2005

zen gol bang rap Dios fin

Hoje é dia de Jorge Drexler no Tom Brasil!
Eu o descobri ano passado, fim de agosto, e me apaixonei pela musicalidade, pelas letras. Coisas lindas! Não poderia perder meu uruguaio favorito!
Adoro todas as canções que ele escreve, mas tenho algumas preferidas: tu (que é linda e de sonoridade poética... "...Y si es necesario la canto en inglés"), tatuaje ("como un tatuaje desteñido me iré borrando de tu piel..."), fusión ("si desde el corazón a los dedos no hay nada en mi cuerpo que no hagas vibrar"), transporte, antes, no pienses de mas, se va se va se fue.
E a canção cuja a batida do violão e a letra não saem da minha cabeça esses dias: guitarra y vos.


estás conmigo / estamos cantando a la
sombra de nuestra parra / una canción
que dice que uno sólo conserva lo que
no amarra / y sin tenerte,
te tengo a vos y tengo a mi guitarra

hay tantas cosas / yo sólo preciso dos:
mi guitarra y vos / mi guitarra y vos

20 maio 2005

sucking the marrow of life (or I am a FREETHINKER)

Eu sou essa pessoa que passa um tempão olhando para a lua, que passa momentos intermináveis observando as ondas do mar, que gosta de assistir o nascer do sol e o pôr do sol. Talvez você saiba como é ser assim. Talvez não.
Não quero a limitação de quem passa a vida vendo-a passar.
De quem aceita o que é cômodo.
Gosto de ser surpreendida. Não gosto de amarras e bloqueios... frescura e hipocrisia... cerimônia em hora errada... pessoas fáceis que dizem o que não sentem por motivos egoístas e para as quais amar não significa segurança.
Se me perguntar o que separa a realidade da fantasia... talvez eu não consiga explicar com palavras claras, mas acredito que é o nosso empenho em tornar a fantasia uma realidade.
E isso não é jogar. É como atravessar o rio sem deixar a roupa seca esperando na margem, pois você vai encontrar outras do outro lado do rio, entende?
Me lembrei da frase de alguém -- mas não me lembro de quem é -- e quero deixá-la com quem me lê:

"nenhum vento ajuda a quem não sabe para onde vai"

09 maio 2005

só é fraco quem gosta de fraqueza (ou só é feliz quem realmente quer)

Nem sempre temos aquilo que queremos.
Nem sempre queremos aquilo que temos.
Algumas vezes o que temos é o que queremos, mas não nos damos conta. Partimos em busca da grama do outro lado do muro. Destino? Maldição?
Por vezes parecemos dispostos a interpretar o que nos acontece como lição de psicologia, uma história sobre quem somos e quem queremos ser, ou sobre o "eu" e o "mim".
Mim precisa ser alimentado para sobreviver. O eu tenta alimentar o mim com suas mais preciosas posses. O que será isso? Auto-estima? Força de vontade?
Consciência. Consciência. Alimentar o mim consome o eu até a beira do abismo.
O verdadeiro eu abre mão de sua consciência para favorecer o mim. Identifica-se com o falso eu. Morre, mas por instantes. Volta para dar de comer ao novo mim, conseguindo uma outra vida após seu esgotamento.
Assim como todo pensamento, se repetido, passa a exercer domínio, esse é um ciclo que continua até você aprender a se proteger e superar o ciclo.
Por algum motivo que desconheço, manipulamos ou interpretamos nossa vida quase o tempo inteiro.
A vida é arte sua, é arte minha. Não artimanha.
Quem fica de olhos vendados, acaba caindo no poço.

05 maio 2005

escriba de babel (ou considerações após as primeiras notícias do dia)

Somos 6 bilhões de cidadãos. Em urgência, ignorância e impulso biológico. De fome morremos 842 milhões por ano, eu li. Outros tantos empanturrados. De ganância uns, de cheeseburger outros. Que mundo é esse? Mundo em que há um centro em torno do qual tudo gravita e do qual tudo depende. Quem faz parte do centro? Os sujeitos. Quem são os sujeitos? São os que fazem o mundo girar. O que eles sabem? Sabem da aspirina, do viagra, da coca-cola, do prozac, do show business, do happy end fabricado, do pão. Quem sabe manda. Não é assim? Aliás, manda até quem não sabe. E vemos o centro do mundo passar na tv. Sim, loiras peitudas tomando cerveja, fumantes praticando esportes, batatinhas cancerígenas. Os sujeitos: governo, patrão, traficantes. Eles é que sabem. Objetos somos nós, aquém da fronteira invisible do centro. Eleitores. Consumidores. Calcula-se que os grandes consumidores do planeta, Japão e Estados Unidos, vão precisar de 2.5 planetas no ano 2050.
E a maioria muda, muda?
Gira, gira, gira, gira, gira, gira, gira, gira mundo. Me leve para outro lugar!!

conversa nada confúcia (ou meio-maio-tudo-azul)

Conversemos.
A conversa é uma das coisas mais agradáveis e mais úteis que existe no mundo.
A princípio conversa-se para distrair e passar o tempo, mas atualmente a conversa deixou de ser um desvario do espírito.
Disse Esopo que a palavra é a melhor, e também a pior coisa que Deus deu ao homem.
Pra fazer valer esse dom, é preciso saber conversar, é preciso saber conhecer todos os recursos da palavra. Eu não conheço todos, por isso não espere encontrar alguma arte na minha conversa. Sim, a conversa pode ser uma arte. Pode ser uma ciência e, até mesmo, profissão. Só não pensem em Paulo Coelho! Esse tem um papinho mixuruca do caramba!
Voltando... existem, porém, diversas maneiras de conversar. Conversamos a dois, en tête-à-tête, com muitas pessoas.
Anyway, a palavra é uma ferramenta, um crayon que traça mil arabescos, desenha baixos-relevos e entrelaça mil harmonias de sons, cores e formas.
Em alguns momentos, a palavra pode ser um duelo, um combate, um cálculo de álgebra (há quanto tempo não penso em álgebra!), a resolução de um problema... quando se quer calcular o proveito que se pode tirar dela. Quase uma estratégia militar! Os olhos são duas sentinelas, dois ajudantes-de-campo postos de observação. Não é brincadeira, não. rs O olhar faz às vezes de espião, o sorriso é uma verdadeira cilada. Mas isso acontece mais frequentemente em política e em diplomacia. Ufa, que grande alívio! rs
A minha conversa de agora é só uma borboleta de asas coloridas que voa sobre minhas idéias e meus pensamentos.
A minha conversa não nasceu comigo. Pego emprestada a frase de Confúcio: "gosto da sabedoria dos antigos e busco neles para o meu ser". É com eles que, também, aprendo o novo. E com os livros. Claro, aprendo comigo, com todas as outras pessoas e com o movimento do mundo ao meu redor.

"Aquilo que sabemos, saber que o sabemos; aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: - isto é que é verdadeiramente saber. "

06 abril 2005

os chapéus entram mais facilmente na cabeça que as idéias

Ando com predileção pelos escritores que criavam máximas ou pensamentos. Eles me são fonte e matéria-prima. Food for Thought. Estimulam minhas próprias reflexões.
Da leitura destes escritores vou colhendo elementos para as minhas reflexões, enriqueço meus pensamentos e até a vida.
Não poderia ser como M. de A., grande ruminador de idéias. "Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça no dizer".
Palavras de Machado de Assis.
As minhas não deixam de ter originalidade e elas conseguem ter até alguma graça!

27 fevereiro 2005

fora de hora

"Não havia mais nenhuma razão especial para me lembrar de tudo isso, e embora eu gostasse de escrever esporadicamente e alguns amigos aprovassem minhas histórias, eu me perguntava às vezes se essas recordações de infância mereciam ser escritas, se não provinham da ingênua tendência para acreditar que as coisas tinham sido mais reais quando as punha em palavras para fixá-las ali como gravatas no armário ou o corpo de Felisa à noite, algo que não poderia ser novamente vivido, mas que se tornava mais presente como se na mera lembrança se abrisse passagem para uma terceira dimensão, uma quase sempre amarga mas tão desejada aproximação. Nunca soube bem por quê, mas de vez em quando voltava a coisas que outros tinham aprendido a esquecer para não se arrastar na vida com tanto tempo sobre os ombros."

(Julio Cortázar, Fora de Hora, p. 107)

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"Tanto tempo sobre os ombros". Eu tiraria o tanto. Tempo sobre os ombros é o que me faz continuar. Não evito o tempo que passou. A verdade é que gosto de todo ele. O tempo passado, possivelmente, ajuda-me a sentir-me melhor, deixar minha vida em ordem, dentro do possível. Mesmo os farrapos soltos, mesmo os vazios. O pior é que não consigo me convencer do contrário.

Não evito o tempo passado, mas não pense que o procuro sempre. Procurar o tempo passado é sempre cair de novo em mim mesma. E viajo à roda da minha vida. E daí acrescento Machado de Assis, explicando a carteira de experiências que misturava dentro de si:

"Creiam-me: o menos mau é recordar; ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim. Corrido o tempo e cessado o espasmo, então, sim, então talvez se pode gozar deveras, porque entre uma e outra dessas duas ilusões, melhor é que se goza sem doer."

O passado é indolor. Repassar a vida é indolor. Com bondade para perdoar culpas e erros e tolerância para os dissabores. O tempo me transforma em espectadora da minha própria vida.

25 fevereiro 2005

la parole en M. de A.

"- (...) há quem diga que o primeiro amor nasce apenas da necessidade de amar."
[ Machado de Assis. Ressurreição, cap. XI]

24 fevereiro 2005

É Xique Xique No Pixoxo

Às vezes vai me invadindo uma espécie de comichão de palavras, um sigiloso e crescente deslocamento de idéias na cabeça que me aproxima pouco a pouco desta máquina de escrever virtual. É assim quando cai a madrugada e vejo o teclado em minha frente como uma ponte entre as minhas idéias e o que eu leio. (Mas para que escrever, por que não abrir um livro, ou escutar um dos meus cds?).

Organizar idéias em palavras, isto deveria ser um exercício diário. A arte da palavra escrita.

Palavra é pedra solta. Não volta. Falada ou escrita. Gosto sempre de dizer isso.

Organizar minhas idéias é voltar para dentro de mim mesma. Sou eu, abastecendo-me no meu mundo.

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É Xique Xique No Pixoxo, peça da Cia Walter Pinto, 1960.

17 fevereiro 2005

palavras de véspera

Os astrônomos estão sempre munidos com seus instrumentos a ver se descobrem algum astro que substitua o que vai embora. "Não poderia ser assim no amor?", poderia perguntar um coração apaixonado. Como responder? Bom, quando não chove, ainda que a noite esteja fria, ao menos temos a lua. Essa combinação pode ser perfeita: noite fria e lua no céu. E, se "o astro" não estiver iluminando outras regiões, podemos abraçar a pessoa amada. Noite fria e lua no céu é para se curtir assim.

Não expressa a absoluta opinião de quem escreve, mas quem quiser concordar pode fazê-lo; quem não quiser, que não queira. Estamos em um país livre e democrático(?).

15 fevereiro 2005

confissão

Sou apaixonada pelo belo sexo e ele (o belo sexo) faz de mim gata e SAPATA.

11 fevereiro 2005


O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava, ou parecia estar escondida. - Machado de Assis

02 fevereiro 2005

pirilampear

Eu adoro os vagalumes! Sim, aqueles com órgãos luminescentes! Bichinhos especiais... Não acredito que o vagalume extraia petulância do fato indiscutível de ser uma das maravilhas mais fenomenais deste mundo, e, apesar disso, bastará supor que ele tenha uma consciência para compreender que, de cada vez que a sua barriguinha acende, esse bicho de luz deve sentir qualquer coisa semelhante a uma cocéga de privilégio.

Eu já quis ser um vagalume quando criança. Imaginava acordar pirilâmpica numa bela manhã. Sonhos de infância. Crê em sonhos? Há pessoas que os aceitam como palavra do destino. Outras os desprezam. Uma terceira leva de pessoas tenta explicá-los como causas naturais. Não, eu não estou pedindo a sua opinião, mas atenção.

29 janeiro 2005

ato livre de leitura não tão solitária

As pessoas ainda estão pensando, por isso, as livrarias e os sebos resistem e existem. Eu tenho lido bastante, sobretudo sobre tudo. (eu quis usar a palavra sobretudo. Deu vontade de encaixá-la em algum lugar.)

Como diria Jerry Seinfeld, as pessoas poderiam ser divididas como os livros nas livrarias: ficção e não ficção. Ou seja: essas pessoas aqui estão mentindo, aquelas ali estão dizendo a verdade. Eu acordo não-ficção, mas posso ir dormir ficção. Ou não. Ou dormir na ficção. Nunca com a ficção.

Deixando as ficções de lado, eu ando lendo histórias incríveis sobre as amantes do imperador D. Pedro I. Nos tempos do império, isso era terra de ninguém. Um livro escrito por Assis Cintra, de 1933. Ele repete informações que já haviam sido registradas por cronistas antigos. Vale! Nesse embalo, leio Serões Históricos. Nele há crônicas interessantíssimas sobre a história do Brasil.

Meu post pretende justamente recuperar a idéia do "lazer" como questão essencial da condição humana. O meu lazer é com os livros. Tenho tirado benefícios pessoais destes tempos de leitura e te convido a fazer o mesmo.

“Estende as pernas, estica também os pés numa almofada, em duas almofadas, nos braços do sofá, nas orelhas da poltrona, na mesinha de chá, na secretária, no piano, no mapa-múndi. Descalça primeiro os sapatos. Mas só se quiseres ficar de pés soerguidos, porque se não torna a calçá-los. E agora não fiques por aí de sapatos numa mão e livro na outra. Regula a luz de modo a não te cansar a vista. Falo já, porque assim que estiveres mergulhado na leitura, nem penses em mexer-te. Arranja-te de maneira que a página não fique na sombra, um emaranhado de letras negras sobre fundo cinzento, uniformes como uma ninhada de ratos; mas tem cuidado para que não lhe bata de chapa uma luz demasiado forte e que não reflita no branco cru do papel roendo as sombras dos caracteres como num meio-dia do sul”.
SE UM VIAJANTE NUMA NOITE DE INVERNO, Italo Calvino.

O Estado sou eu!

Bush reeleito e Arafat foi ao encontro de Alah. Terminamos e começamos assim. Vê-se de tudo. Só não se vêem as vítimas civis. E o Brasil? Já brincaram demais de poder. E o povo não faz nada. Tá na hora de entrar na brincadeira. Estão mexendo no bolso das prestadoras de serviço e elas vão fazer lobby no congresso.

Anyway, o brasileiro é um povo com complicada auto-estima. O povo não podia deixar de ter em si uma porção de parasitas. Há diversos tipos deles, mas o mais vulgar e o mais conhecido é o que há na política.

"L' état c'est moi!", dizia Luís XIV, rei da França.

Conceito de um filósofo antigo que aprendi cedo:
- Quem não sabe calar-se, não sabe falar.

24 janeiro 2005

A GRANDE CHARADA (ou NA FALTA DO QUE POSTAR)

"João toma banho quente e sua mãe diz ele quero banho frio"

"Um navio holandês entrava no porto um navio inglês"

Como pontuar essas frases para que elas façam sentido?

21 janeiro 2005

S de...

Tenho comprado muito em sebos. Influência de uma "rata de sebo", mas a verdade é que sinto sede de impressões novas, fazendo meus primeiros contatos com alguns grandes autores, e reencontrando antigos "amigos".

Novas idéias. Idéias frescas. Minhas idéias são, entretanto, uma mistura e uma confusão; há de tudo!

Por outro lado, tenho matado saudades do meu sitcom favorito: Seinfeld. É genial! Um sitcom sobre o NADA. Nada, YADA-YADA-YADA! Elaine, a garota esponja que acredita em aborto, com penteado estranho. Jerry Seinfeld, o comediante com vida real mais engraçada que seu material de stand up comedy. George Costanza, baixinho, careca, gostaria de ser arquiteto e é obcecado por sexo. Kramer, o vizinho mais esquisito que alguém poderia ter. Os temas são multifacetados e ali está o TUDO. A amizade deles é incrível. Sem falar nos diálogos e argumentos inteligentes, da excelência dos quatro atores e da certeza de que já passamos por quase todas aquelas situações.

Como o NADA pode ser tão interessante!

Não tenho mais NADA para falar.

Not that there's anything wrong with that...

livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor.
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?


Machado de Assis