23 junho 2005

pirueta petulante de pensamento

Se tivéssemos informação suficiente para prever as conseqüências de nossas ações... Gostaríamos de ter essa informação? Se você beijar aquela pessoa, se falar com aquela outra, se aceitar aquele emprego, se você se casar com essa pessoa, se fizer aquela viagem ou se aceitar aquele convite. Se puder saber o que vai acontecer no final, seria capaz de dar o primeiro passo, de fazer o primeiro movimento? Teria coragem para o amor? A maioria, no fundo, quer amar o que amaria – e não o que é. Porque a maioria ainda não é ela mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele.

Eu não iria querer ter essa informação. Se eu soubesse que as coisas aconteceriam de um jeito diferente do meu desejo, não daria o primeiro passo, daria? Sim. Mas se algo nos assusta, fugimos. É instintivo. Somos gente! Dura tarefa! Mas eu continuaria com qualquer coisa bela em minha vida. Não sou da tribo que faz do viver pura aceitação, inclusive a aceitação de não aceitar nada, de sair quase antes de chegar, de matar tudo o que ainda não é capaz de matá-la. Coragem é um hábito! É preciso praticar.

Não, eu prefiro não saber. Não teria graça. Eu prefiro saltar a bordo como se fosse a primeira viagem. Viver é como amar, um salto sem rede. E só assim vale a pena. Escolho o imprevisto. Dorme, amor, nos meus braços. Como se eu fosse a primeira.

De qualquer maneira, sabemos o que desejamos que aconteça.

Desejo que uma noite dessas seja quebrada por um instante à passagem de uma estrela cadente.

Tudo é possível, não há nada que se possa deter. O que era impossível acaba de acontecer.

14 junho 2005

estravagario, navegações e regressos* sobre um post vivo antes de anunciado

Vou falar de amor. Sentimento. Das relações amorosas.
Conversavam sobre o amor. O amor que une duas metades ou que une dois inteiros. Falavam que há sempre um generoso e um egoísta. Dominante e dominado. Dois opostos. Tanto faz. Que relacionamento assim, onde um serve para o que o outro não serve, é baseado na inveja. Que não é bom. Que fica a incompletude.
Alguém já sentiu completude?
Eu acredito na via de mão-dupla. Na generosidade sem acumular pontos. No respeito. Na necessidade de me aproximar como pessoa. No convívio tendo esse resultado. Assim como os que conversavam, não acredito no euteamo guarda-chuva. Não acredito na casca contando mais que o miolo. É efêmero demais.
Sexo é muito bom, mas “dar não é fazer amor, dar é dar”. (and if you're chasing after people like these you’re sitting on some pretty major issues, buddy)
Tudo bem, ninguém aqui tem que ser gênio, ter extraordinária capacidade intelectual para justificar a vida.
A idéia de que somos todos substituíveis não me convence, mas é como eu sinto as coisas acontecerem freqüentemente. Ama-se uma, depois outra. Mas fica a certeza de que um relacionamento pode ser renovado, pouco importando contratempos e brigas, porque, pense comigo, ninguém permanece igual. Nisso pode estar a eternidade. Nessa conquista cotidiana. Nas pessoas renovadas que somos a cada dia.
Ou será tudo mesmo transitório e efêmero nessa fugacidade moderna que se vê por todos os cantos? Será a vida um sonho, um momento, um segundo, um eu não sei? Eu não sei. Mas não há momento em que eu não olhe para trás com um sorriso no rosto. Isso é bacana.
Ninguém pode me impedir de sentir. Só mesmo a falta de sentimento. Eu não conheço bem esse sentimento de não sentir. Porque tudo em mim grita. Sou minha vida escancarada! Essa vida que eu tenho. Esse caminho que eu sigo e do qual sou a única responsável.
Uma amiga minha escreveu que “as pessoas são superficiais porque perderam a coragem de viver o profundo. Não sabem o quanto é bom!! Contentam-se com a excitação porque não sabem o que é o orgasmo". Ela não está sem razão. São tantos os fatores: psicológicos, fisiológicos, tecnológicos, globalógicos... chamamentos que iludem quem gosta de ilusão. Nesse caso, sim, o profundo que conhece não mede mais que alguns centímetros e cabe na x-x-t- e na boca. Cabe no imediatismo de quem mal pode esperar para se afogar em agonia. Pode ser maravilhoso para alguns fins de semana, mas não sei como poderia ficar “in the long run”. Não cabe no sentimento, no que vai dentro, no que sustenta a vida, no que fica.
Eu falo aqui de realmente acreditar. Quando sentimentos têm força maior que o seu controle e te fazem perceber alguém que te traz felicidade além do que você pensa. Quando você experimenta sentimentos que achava somente nos livros.
So what? Cada um que cuide do seu umbigo.
Contudo, a cada dia me fica mais claro que a vida pode ser mais leve e mais simples. Sem polinômios. Sem profundos centímetros. Descomplicada. Porralouquices e altas indagações são ótimas, mas é preciso estrutura.
Necessitamos aprender certas coisas e reaprender outras. Necessitamos reaprender nós mesmos.

"Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver" (Linha do Equador, Caetano Veloso)

* Estravagario e Navegações e Regressos são livros de poesias de Pablo Neruda.

08 junho 2005

sobre o que eu faria se eu tivesse um pênis e outros "sacos"

Essa é uma das teorias mais polêmicas de Freud: a inveja do pênis.
Eu ouvi esse assunto hoje. Nunca me tirou o sono.
Você gostaria de ter um? Pegá-lo, brincar com ele, quem sabe?
Como parte do meu corpo, não. Talvez mijar em tudo, em qualquer lugar. Abrir o zíper e pronto. Alívio.
Hum, tocar um monte de punhetas! Isso poderia ser divertido!
Ainda que possa ser interessante, para o dia-a-dia ter aquilo roçando no meio do caminho não seria tão agradável. Não, nem um pouco.

Eu adoro a feminilidade. Adoro ser uma mulher e amar outra mulher. Não optei por isso. Ninguém me trouxe o menu. Não é uma escolha gostar dele ou dela. A única escolha é ser feliz ou não. Hoje, se me trouxerem o menu dizendo que eu posso optar, eu continuarei sendo uma mulher que ama outra mulher.

Se os homens têm uma porção feminina, eu tenho a minha porção masculina. Que atire a primeira pedra a mulher que não a tem. Quer saber o que eu faço com a minha porção masculina? Seguro meu pau com firmeza!

Nada de tabus. Sexo reprimido. A penetração excita? Sim! É tudo? Não!
Fora de mim, dentro de mim, embaixo ou em cima, eu quero a minha mulher. (hum, feromônios agindo)

Nada contra os homens! Nada mesmo! Absolutamente! Só deixo claro que tomo posse da minha sexualidade. Do meu desejo. Eu sou dona da minha libido.

Faço parte do único "grupo social" que dispensa o pênis/homem para ter prazer. Interessante, não é?

Mas se eu pudesse ter um pênis só por um dia, o que eu faria com ele?
Não, você não quer que eu responda a essa pergunta!

02 junho 2005

zen gol bang rap Dios fin

Hoje é dia de Jorge Drexler no Tom Brasil!
Eu o descobri ano passado, fim de agosto, e me apaixonei pela musicalidade, pelas letras. Coisas lindas! Não poderia perder meu uruguaio favorito!
Adoro todas as canções que ele escreve, mas tenho algumas preferidas: tu (que é linda e de sonoridade poética... "...Y si es necesario la canto en inglés"), tatuaje ("como un tatuaje desteñido me iré borrando de tu piel..."), fusión ("si desde el corazón a los dedos no hay nada en mi cuerpo que no hagas vibrar"), transporte, antes, no pienses de mas, se va se va se fue.
E a canção cuja a batida do violão e a letra não saem da minha cabeça esses dias: guitarra y vos.


estás conmigo / estamos cantando a la
sombra de nuestra parra / una canción
que dice que uno sólo conserva lo que
no amarra / y sin tenerte,
te tengo a vos y tengo a mi guitarra

hay tantas cosas / yo sólo preciso dos:
mi guitarra y vos / mi guitarra y vos