21 fevereiro 2011

o eco de antigas palavras bota no corpo uma "outra vez"

Absorvida na leitura de um livro e sentindo o aroma de café, penso nos três meses que levei para achá-lo em um sebo. Estava mergulhada na leitura do prefácio do meu livro quando ela me interrompe o pensamento. Vem ao meu encontro com trejeitos e gestos expressivos. Sinto-me feliz. Ela chama o garçom e pede a conta. E ri com riso tímido. E eu a quero inteiramente para mim.
Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos adivinhar aquilo que estamos vivendo. E é assim que compreendemos o sentido do que sentimos. E ela encoraja o meu interesse por ela. Ficamos "presas" uma a outra em momentos assim. Momentos que sempre existirão em mim, momentos que parecem sair do chão como feiticeiras de Macbeth, em que esse rosto dela com todas as suas transformações e a fala vão me invadir.
Pode existir qualquer coisa mais importante que amar e ser amada? E correr os riscos do amor, vale? Não se arriscar é estar aprisionada em seu próprio corpo. Prevenir-se no amor é matar a capacidade de aprender com suas conseqüências. Vale a pena, sim. Mesmo que a canção diga que quando se ama se está sempre na plataforma de uma estação.
Bem posso, como quem ama, andar com os pés na terra e a cabeça no céu, com beijo de lábio de mulher, desejando com um amor possessivo, quase acidental. Amando, eu amo como ninguém no mundo amou. Ninguém conta as horas com ardor mais febril. Tudo é permitido: dizer tudo, tudo fazer, tudo ser, tudo experimentar, tudo em tudo.
Um número incalculável de corações bate em meu ventre. E minha língua buscando na noite salgada, na noite viscosa, na carne quente, na carne frágil. Sempre pensei que um dia ia tropeçar no meu tesão. Cheiramos. Percorremos. Mordemos. Esprememos. Lambemos. Todos os movimentos mais ondulantes. Sem-vergonhas. Retorcendo-nos. Atirando-nos uma na outra, confundindo nossos líquidos, nossos cheiros. Você me engravida de feminilidade. Assim. Assim. Assim. Assim. Assim...
Por instantes posso deixar de acompanhar as mazelas desse mundo para romancear a vida. Posso confiar nessa felicidade, confiar em meu amor, e me abandonar te olhando em silêncio e encantada com o que aconteceu de tão bom.
O amor tem tantos gostos.