18 outubro 2005

na medida mais (im)precisa que eu puder

Ainda que alguém diga que os óvnis param na Terra para abastecer-se de nitrocarbono. De repente, uma vontade de benzer-me pedindo proteção, mas e se Deus morreu em Auschwitz, talvez no Vietnã, e se? Ainda que alguém contasse que um padre jesuíta provou a existência de Deus. Ele descobriu 102 deles usando uma lente telepática. Ainda que os melhores momentos da vida voem.

Hum rum.

Essa semana eu completo 31. Lacan gostava de dizer que tinha 5 anos. Aos 5 anos a pessoa tem um querer direto, sem intermediários. Nada do querer reivindicativo dos 15, e do querer conforme as regras da idade adulta. Mas eu não tenho jeito. Sou uma romântica incurável de 1930, aos quase 31.

Encontro é descoberta. Reencontro é descoberta. Idéias e sentimentos podem despencar ladeira abaixo. E amadurecem também. E é bom mudar de idéia, fazer de novo, fazer diferente. Igual. Porque eu estou para o que der e vier. Desconstruir, construir, mudar de ares... Muita confiança, muito amor, o sol, a lua, calcinhas, noites em claro, garrafas de vinho do Porto, vontade de ficar juntas, de abraçar e de se amar à tarde, com o calor doido, pela manhã, madrugada. Uma coisinha minha, nossa. E viver junto das pessoas com as quais eu tenho vontade de continuar a viver e avançar.

Você já sentiu atração por pessoas do mesmo sexo? Ah, sim, o chuveiro ajudou.

Eu quero é seguir tranquila com tudo, como se não existisse no mundo nada que possa ser vergonhoso ou perturbador. Gozar a vida. Literalmente. E é como se, no orgasmo, a gente alcançasse o máximo da felicidade, a felicidade absoluta. É uma sensação violenta e doce, de quase se perder e palpitar juntas. Minha mulher e eu.

Talvez eu não possa descrever algumas sensações. Mas posso falar da sensação dominante que a gente sente quando vai chorar. Uma coisa que mistura ternura, ansiedade e alívio. Como quando se chora sem estar triste. "A trepadinha nossa de cada dia nos dai hoje" é gostosa, mas quando estou amando, sobretudo - e na verdade, somente - o corpo se comporta assim sem a colaboração do cérebro.

Eu quero sempre ser assim. Nem demais, nem de menos. Mas amar, eu amo sem medida.

Queria escrever sensações. Como é que se faz?

"Ninguém mais, amor, ocupará meus sonhos.
Você irá, iremos juntos, através das águas dos tempos.
Ninguém mais atravessará as sombras comigo, só você.
Sempre verde, sempre sol, sempre lua."
(Pablo Neruda)