11 dezembro 2009

como una luna en el agua

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

[O jogo da amarelinha, capítulo 7.]

08 dezembro 2009

justiça cósmica

Será que existe uma justiça cósmica na distribuição do amor, que passa por cima das decepções amorosas? Tem quem acredite que há um déficit na balança de carinho porque as pessoas hesitam em dá-lo... Alimente o seu espírito com poesia e música. Deixe que o amor circule livremente.
Eu tenho a minha "poesia". A minha flor, meu bebê.
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida. (...) [Drummond]

29 novembro 2009

blod do sócrates?

“SE A MENTIRA TEM PERNA CURTA, POR QUE ELA CORRE MAIS QUE A VERDADE?”. ESSA O PLATÃO NÃO ANOTOU.

Continuo sendo um dos pensadores mais influentes da história da humanidade. Isso me enche de orgulho, apesar de que meu sonho mesmo era ter sido jogador de futebol. Ocorre que, como todos bem sabem, não deixei nada registrado. Minha produção intelectual foi toda escrita por meu discípulo Platão, que – também é de conhecimento de todos – estava sempre apaixonado. Portanto, muita coisa que eu disse ficou deturpada, outras mal explicadas, algumas carentes de explicação e outras necessitando de atualização. Deixei a preguiça de lado, resolvi eu mesmo vir aqui fazer essa revisão crítica de minha obra, depois que Platão ameaçou me cobrar pelos serviços de secretaria. Ingrato. Fez-se nas minhas costas.

Conheça a ti mesmo.
Se ao fazer isso você se descobrir um chato, parte para outra. O mundo é cheio de gente interessante para você perder tempo com a pessoa errada. (...)
O restante tá aqui (fonte): http://www.blogsocratico.blogspot.com/


expressionistic dance

27 novembro 2009

como quem colhe flores

Dois rapazes passaram por mim hoje. Iam na direção contrária, e eu não pude deixar de ouvir o que um deles disse: "amor de verdade não existe".
Eles deviam estar falando sobre relacionamento, mas não sei o motivo da afirmação sobre o amor. Acho que nunca vou saber. Se eles pudessem me ouvir, eu diria "o amor não se encontra em qualquer esquina, mas o amor existe, sim".
Eu posso perder a fé na ciência, posso perder meu senso de direção, mas se eu perder a fé no amor, não vai me sobrar mais nada pra perder.
Nem todos os dias são de primavera... Eu vivo o amor dia após dia.

te trago mil rosas roubadas

Ao abrir aquele envelope, você foi selecionada, dentre bilhões, foi colhida da praia da galáxia como uma concha. Consigo envolvê-la com minha língua lasciva. Você. Bastante diferente de qualquer garota desbotada. Falo de elementos de atração muito mais profundos que a carne.
Nossos olhos se encontraram de verdade.
Quero estar presente quando seus olhos se abrirem pela manhã e você me vir e sorrir. Paraíso.
Terminemos este postprelúdio com uma declaração à moda antiga: amo você.

24 novembro 2009

curta o curta



O curta “Vincent” foi a primeira animação de Tim Burton, produzida
em 1982, nos EUA. Narra a história do pequeno Vincent Malloy,
um menino que sonha ser Vincent Price, lendário ator conhecido
como “O mestre do terror”. Diferente dos outros meninos, Malloy
adora ler Edgar Allan Poe, tanto que mergulha dentro das leituras
que faz. Feito em stop-motion, tem a narração do próprio Vincent Price.

[Só para tirar a cabeça das mediações pedagógicas, das NTICs,
das transversalidades. Parece tão sombrio quanto os assuntos
citados, porém mais divertido.]

é assim

(...)
Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!

[fragmento de JG de Araujo Jorge - 1935]


Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo. Não mata.

[Clarice Lispector]

22 novembro 2009

O assassino era o escriba

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
[Paulo Leminski]

14 setembro 2009

soneto de devoção


Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez... – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


Rio de Janeiro, 1938

in Novos Poemas
in Antologia Poética
in Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"

23 agosto 2009

keatsinspiração

“Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do coração e da verdade da imaginação – o que a imaginação capta como beleza deve ser verdade – tenha ou não existido antes.”

John Keats, carta a Benjamin Bailey, 22 de novembro de 1817.

16 agosto 2009

all I can provide

Por vezes, num misto de vontade e pensamentos rondantes, fiz login, abri esse editor de texto e fiquei. É isso: fiquei. Esperei que os pensamentos se alinhassem... Nada. Talvez quisesse mudar o assunto - que gira sempre em torno das minhas emoções. Vividas, desejadas, imaginadas. E aí o pensamento pensa na dorzinha que dói o amor vezenquando, na alegria que alegra o amor quase sempre, no encanto que encanta o amor encantado, nas línguas que se tocam, nos gestos mais furiosos e mais amenos, nos gemidos, nas secreções líquidas e secretas, segredo de duas, nas ardências ardentes, nas inconfessáveis fantasias confessas. Segredos de liquidificador.
E a madrugada acaricia as minhas olheiras enquanto eu continuo buscando um lugar meu no mundo.
Em horas como essa não ofereço perigo algum, encolhida como uma folha de outono.


"Let me sing you a waltz
Out of nowhere, out of my thoughts
...
I have no bitterness, my sweet
I'll never forget this one night thing
Even tomorrow, another arms
My heart will stay yours until I die


(Trecho incidental da canção "A waltz for a night", Julie Delpy.)
* música-inspiração de fundo: Jazzanova

05 julho 2009

conforto

Como descrever, narrar, contar esse seu corpo que entre o frio e o lençol se esconde e se anuncia?

Com você entendo o bom das coisas.

19 maio 2009

amor de tarde, mário benedetti

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são quatro
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis.
Você podia chegar de repente
e dizer "e aí?" e ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono.

* Adiós, Don Mário Benedetti.

08 abril 2009

o que é que te assombra?

Entrego-me inteiramente aos secretos impulsos dos meus dedos. Efeito da excitação de espírito em que me acho. Coração ligado, beat acelerado... Enfim, há um treco que eu queria entender. Não sei. E você acredita que a gente é o que a gente faz. Acaba indo pra cama ou se casa. Briga, se engana porque faz tudo no escuro, sem amar, me entende?

Eu nunca quero ter vergonha do que eu sou capaz de sentir. Quero passear de mãos dadas, brincar de pisar na nossa própria sombra. Café da manhã, almoço, jantar, ligações telefônicas no meio da tarde, no meio da noite. Sons, gostos, sabores. Teu sabor. O doce e o salgado em você. O tempo não existe.

Será amor o nome que damos pra essa necessidade doentia que se destrói? Será que a gente só sabe que ama quando o coração pulsa entre as pernas?

Eu sei que amo porque o meu coração (e o dela) pulsa além do "entre as pernas".

As duas no banheiro depois de ouvir o "clic" da tranca da porta. Você ri tensa, eu sorrio. Abro os braços, dois passos e nos abraçamos. Eu sentada, rosto no seu ventre. Quero ver como são seus olhos quando eles se estreitam.

Quem ama não percebe o jeito que ama. Mas eu percebo que o coração pulsa entre as minhas pernas quando o amor já não cabe na frase. Quando eu descubro que o luar é o que existe de mais perfeito, só que depois, bem depois, muito depois de você.

O pensamento não pára.

Tenho pena das mulheres que não gozam.

15 março 2009

De um tempo passado. Era no tempo do rei...

Eu tenho ciúme. Não desconfio de você. Juro. Quando falo alguma coisa que seja "desconfiante" é mais pra te ouvir dizer o contrário, é mais pra te ouvir falar de amor, de querer ficar junto. O que eu não gosto é dessas pessoas nos bombardeando com e-mail, telefonemas, torpedos, recados... Essa suposta liberdade para "aparecer" do jeito que querem. Não gosto.

Você é minha! Não é minha propriedade. É minha mulher, é minha namorada, é minha amante. É minha noiva. É a mulher que meu coração reconheceu, que eu reconheci como aquela única pessoa com a qual eu desejo ficar e viver por todo tempo que existe.

Você me sabe mais que eu. Eu deixo que você me saiba mais que eu. Eu faço todos os juramentos e promessas de amor por você. Tanto nas juras mais vivas como nos beijos mais longos, eu amo você.

Eu te amo até o mundo acabar e mesmo depois.

Não quero qualquer outra pessoa com qualquer tipo de liberdades contigo. Tenho vontade de falar com a pessoa, de ir tomar satisfação. De dizer pra todo mundo que você está comigo. Que a gente se ama. Que você não tem olhos, nem cabeça e nem corpo pra qualquer outra pessoa. Só pra mim.

O mundo que enlouqueça, mas você é minha. Somente minha.

15 janeiro 2009

a gente precisa ver o luar

Cabeça, corpo, cama, desejo, desejo, desejo, coração, futuro, calma, alma, confiança, a boca mágica e maravilhosa que sabe exatamente o que quer fazer e tem, deitada a seu lado, alguém que quer fazer a mesma coisa e nada mais.