10 novembro 2005

ali, onde os pêlos sobem da púbis ao umbigo

Quando eu estava sozinha, pensava nela, falava nela à meia voz e colocava a mão dentro da minha calcinha. E penso em quando estávamos deitadas juntas. Eu queria beijá-la, mas alguma coisa no estômago me impedia. Era como um peso, algo que eu não conseguia remover. Timidez também pode pesar. Peguei suas mãos e não pensei em mais nada. Continuava envergonhada, mas os nossos olhares tinham mudado. E a imaginação parece tão real... Com um gesto me descobre e tuas mãos percorrem minha pele (primeiro arrepio), com a língua entreabre meus lábios. Depois, ajoelha-se perto da cama e começa a me lamber feito uma gata tomando seu leite. (Segundo arrepio) Quase uma declaração. Uma daquelas que se diz à meia voz. Uma daquelas que quase não se usa mais porque poucas pessoas têm coragem. Uma felicidade molhada, explosiva, voz rouca, abafada e pronto! As costas se arcam como as de um gato. Causadora de todos os meus orgasmos. Revolucionária do amor.

Não sei por que escrevo. Só sei que escrevo. Pode ser que depois descubra o por quê e me venha um alívio. Falo do lado “de dentro” das coisas. O amor não pode ser subentendido. E que eu não me torne aquela pessoa que racionaliza demais, fica na defensiva e o medo se encarrega de cancelar tudo aquilo que pode ser natural e espontâneo. Pela dificuldade de sermos claras. Por esquemas idiotas de comportamento que castram qualquer tentativa de vida mais profunda e mais cheia de amor.

É que tudo parece tão frágil e tão banal. Muitas pessoas estão assim. São. Mas não desacredite. Não viva assim. Apesar dessa filosofia “liberada” e superficial que se vê, muita gente quer a clareza, desejos recíprocos, relações sexuais e afetivas. E eu desejo que a intenção profunda do nosso amor consiga sempre superar qualquer obstáculo causado pelo nosso egoísmo, por necessidades diferentes. E que a gente tenha sempre espaço uma para a outra. De descobrir, questionar, ouvir, mostrar o nosso mais inteiro.

Porque eu quero o olhar que toca, a conversa que abraça, a brisa do amor que nos cobre na cama. Te olhar mais profundamente. Somando tudo, que seja uma coisa bonita. Somando tudo, que seja espontânea e natural como deveriam ser todas as coisas. Peço apoio, peço afeto, lealdade e tudo aquilo que você pode e quer me dar. Peço também que você me peça tudo aquilo que precisar e eu não estiver vendo. Algumas vezes, mesmo sem querer, a gente simplesmente não vê. E seguiremos descobrindo juntas maneiras novas de amar do mesmo jeito antigo, vivo. Paciência. É preciso muita paciência também. Para amar sem castrações, sem perplexidades ou incertezas, cancelar todos os bodes mesmo. Mas sem fugir deles sem enfrentá-los. Nós duas. Nos tocando, dizendo o que cada uma sente. Livremente. Levemente. Leve... Nunca vou me habituar a viver de uma maneira babaca.

A chave gira na tua fechadura. A porta se abre. Eu. Então abro os braços, dou um sorriso e topo qualquer parada.