19 maio 2009

amor de tarde, mário benedetti

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são quatro
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis.
Você podia chegar de repente
e dizer "e aí?" e ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono.

* Adiós, Don Mário Benedetti.

4 comentários:

  1. menina dos meus olhos20 de maio de 2009 às 22:48

    É uma pena... que o amor esteja banalizado. É uma pena que as pessoas não consigam perceber o sabor delicado de segurar a mão da pessoa amada, olhar nos olhos e ler o que ela diz. É uma pena não apreciarem o delicioso som de um "bom dia!". É uma pena não terem nos lábios o gosto de um beijo que já espera o próximo. Não saberem o aconchego de um abraço. É uma pena não sonhar.

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  2. Um belo poema!!!!!

    É uma pena as pessoas se tornarem todos os dias pessoas tão mortais!!

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  3. Só para dar oi,e dizer que sempre passo por aqui pra ler seus belos textos!
    Beijo,se cuida!

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