28 novembro 2006

a coisa mais linda que existe

Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim

Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura

A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim

O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim

(a besta do Gil e o grande atormentado Torquato Neto)

tô me sentindo muito romântica. Piegas mesmo. Sem fim.

14 novembro 2006

era uma vez o homem que virava barril

Quando pequena, morando na minha cidade do Rio de Janeiro, costumávamos passar as noites de verão (mas só faz verão naquela cidade!) na rua. Pais, mães e (algumas vezes) os avós com suas cadeirinhas de praia, ou banquinhos de madeira, nos portões de casa. A criançada com pé no chão, brincando. Uma certa hora, minha bisavó, mais conhecida como "dona Sônica" (seu nome era Alcinda), aparecia, já com seus quase 90 anos e muitas histórias e causos para contar. A criançada e a adultada se reuniam ao redor dela para ouvi-la. Não é que havia um homem que virava barril? Isso mesmo: barril! O homem já não existia mais, mas havia morado na vizinhança. Era um moço que, dizia a minha bisa, nunca permanecia com os amigos até muito tarde na rua. Ele sempre inventava uma desculpa. Os amigos estranhavam, mas a vida seguia. Acontecia que, por volta da meia-noite da primeira noite lua cheia, passava sempre um barril rolando pelas ruas. Coisa de "assombração", todos diziam. Foi numa noite de lua cheia, os amigos reunidos na esquina da rua, quando o tal moço disse que precisava ir para casa. Os amigos insistiram para que ele continuasse ali, mas o moço foi pra casa apressado. Passado algum tempo, lá vem o "misterioso" barril rolando pela rua. Um deles acertou uma pedra que tirou uma lasca do barril. Inexplicavelmente (?), o tal moço apareceu com um braço quebrado na manhã seguinte. A vizinhança inteira, que já achava que existia algo de estranho naquele moço, jurou - de pé junto - que ele era o barril que rolava pelas ruas, em noites de lua cheia.

Essa história me foi contada várias vezes, durante a infância. Tento relatá-la simplesmente, usando um mínimo de literatura. Mas toda transcrição desse tipo de conto é inevitavelmente falha. Essa história só vive de viva voz.