14 junho 2005

estravagario, navegações e regressos* sobre um post vivo antes de anunciado

Vou falar de amor. Sentimento. Das relações amorosas.
Conversavam sobre o amor. O amor que une duas metades ou que une dois inteiros. Falavam que há sempre um generoso e um egoísta. Dominante e dominado. Dois opostos. Tanto faz. Que relacionamento assim, onde um serve para o que o outro não serve, é baseado na inveja. Que não é bom. Que fica a incompletude.
Alguém já sentiu completude?
Eu acredito na via de mão-dupla. Na generosidade sem acumular pontos. No respeito. Na necessidade de me aproximar como pessoa. No convívio tendo esse resultado. Assim como os que conversavam, não acredito no euteamo guarda-chuva. Não acredito na casca contando mais que o miolo. É efêmero demais.
Sexo é muito bom, mas “dar não é fazer amor, dar é dar”. (and if you're chasing after people like these you’re sitting on some pretty major issues, buddy)
Tudo bem, ninguém aqui tem que ser gênio, ter extraordinária capacidade intelectual para justificar a vida.
A idéia de que somos todos substituíveis não me convence, mas é como eu sinto as coisas acontecerem freqüentemente. Ama-se uma, depois outra. Mas fica a certeza de que um relacionamento pode ser renovado, pouco importando contratempos e brigas, porque, pense comigo, ninguém permanece igual. Nisso pode estar a eternidade. Nessa conquista cotidiana. Nas pessoas renovadas que somos a cada dia.
Ou será tudo mesmo transitório e efêmero nessa fugacidade moderna que se vê por todos os cantos? Será a vida um sonho, um momento, um segundo, um eu não sei? Eu não sei. Mas não há momento em que eu não olhe para trás com um sorriso no rosto. Isso é bacana.
Ninguém pode me impedir de sentir. Só mesmo a falta de sentimento. Eu não conheço bem esse sentimento de não sentir. Porque tudo em mim grita. Sou minha vida escancarada! Essa vida que eu tenho. Esse caminho que eu sigo e do qual sou a única responsável.
Uma amiga minha escreveu que “as pessoas são superficiais porque perderam a coragem de viver o profundo. Não sabem o quanto é bom!! Contentam-se com a excitação porque não sabem o que é o orgasmo". Ela não está sem razão. São tantos os fatores: psicológicos, fisiológicos, tecnológicos, globalógicos... chamamentos que iludem quem gosta de ilusão. Nesse caso, sim, o profundo que conhece não mede mais que alguns centímetros e cabe na x-x-t- e na boca. Cabe no imediatismo de quem mal pode esperar para se afogar em agonia. Pode ser maravilhoso para alguns fins de semana, mas não sei como poderia ficar “in the long run”. Não cabe no sentimento, no que vai dentro, no que sustenta a vida, no que fica.
Eu falo aqui de realmente acreditar. Quando sentimentos têm força maior que o seu controle e te fazem perceber alguém que te traz felicidade além do que você pensa. Quando você experimenta sentimentos que achava somente nos livros.
So what? Cada um que cuide do seu umbigo.
Contudo, a cada dia me fica mais claro que a vida pode ser mais leve e mais simples. Sem polinômios. Sem profundos centímetros. Descomplicada. Porralouquices e altas indagações são ótimas, mas é preciso estrutura.
Necessitamos aprender certas coisas e reaprender outras. Necessitamos reaprender nós mesmos.

"Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver" (Linha do Equador, Caetano Veloso)

* Estravagario e Navegações e Regressos são livros de poesias de Pablo Neruda.

5 comentários:

  1. É o mais difícil de tudo: desaprender. Uma relação se mantém quando desaprendemos o que éramos ontem para, então, poder aprender o que somos hoje. bjs

    ResponderExcluir
  2. Não havia olhado as coisas sob este ponto de vista: desaprender é mais difícil que aprender. E eu que achava que era só uma questão de abandono e tempo e a gente desaprendia!
    Então é isto, romper com o passado e começar tudo de novo, hoje.
    Mas aí, não seria melhor guardarmos a experiência de ontem pra não repetirmos o erro hoje? Ops! Mas isso é que é aprender, não? Acumular exepriências.
    Ampliando: desaprender o que não convém e aprender o que somos hoje, mas de forma mais madura, com mais experiência.
    É isso, necessitamos mesmo nos reaprender a cada dia. RECICLAR.

    ResponderExcluir
  3. Desaprender é a capacidade de sair de padroes estabelecidos e criar novos, com ou sem seus referenciais.
    Mas quando se fala de amor não há regras. Aliás, há uma única: amar é cuidar.
    Bom post, vale refletir mais. Vou ler de novo.

    ResponderExcluir
  4. Nora,

    Sim, não há regras! Não existe uma cartilha explicando, um manual de instruções.
    O cuidado é essencial, mas só garante o respeito. Aliás, que já é muito. Algumas pessoas simplesmente não têm respeito pelas outras pessoas. Na verdade, a falta de respeito é por elas mesmas. Ninguém pode dar o que não tem, não é? rs
    E desaprender não é fácil, mas vai compensar. As pessoas querem tudo agora. Se é pra dar certo, tem que ser já e tem que ser 24 horas por dia! Todos os dias! São impacientes. No primeiro tropeço. Kafka escreveu em seu "diário íntimo" que "há dois pecados humanos capitais, dos quais os outros decorrem: a impaciência e a preguiça".
    Não falta pensamento sobre o assunto. : )
    Lendo Cortázar e Clarice então...
    Beijo!

    ResponderExcluir
  5. "ninguém permanece igual"... Penso que esta seja a principal razão para que as coisas numa altura nos pareçam tão perfeitos e no momento seguinte.. tudo esteja tão diferente...

    Curti mta a frase da tua amiga... axho k está mto original...e correcta

    ResponderExcluir