09 maio 2005

só é fraco quem gosta de fraqueza (ou só é feliz quem realmente quer)

Nem sempre temos aquilo que queremos.
Nem sempre queremos aquilo que temos.
Algumas vezes o que temos é o que queremos, mas não nos damos conta. Partimos em busca da grama do outro lado do muro. Destino? Maldição?
Por vezes parecemos dispostos a interpretar o que nos acontece como lição de psicologia, uma história sobre quem somos e quem queremos ser, ou sobre o "eu" e o "mim".
Mim precisa ser alimentado para sobreviver. O eu tenta alimentar o mim com suas mais preciosas posses. O que será isso? Auto-estima? Força de vontade?
Consciência. Consciência. Alimentar o mim consome o eu até a beira do abismo.
O verdadeiro eu abre mão de sua consciência para favorecer o mim. Identifica-se com o falso eu. Morre, mas por instantes. Volta para dar de comer ao novo mim, conseguindo uma outra vida após seu esgotamento.
Assim como todo pensamento, se repetido, passa a exercer domínio, esse é um ciclo que continua até você aprender a se proteger e superar o ciclo.
Por algum motivo que desconheço, manipulamos ou interpretamos nossa vida quase o tempo inteiro.
A vida é arte sua, é arte minha. Não artimanha.
Quem fica de olhos vendados, acaba caindo no poço.

7 comentários:

  1. a sensação de ser nada, de estar no caminho errado, de não ter razão de viver, são alertas de coisas que, se não tratadas, hão de dar lugar ao vazio.
    A vida é arte SUA, pirilampo! Adorei! Adorei!

    ResponderExcluir
  2. Apenas comentando o comentário:
    "a sensação de ser nada, de estar no caminho errado, de não ter razão de vive" não vão dar lugar ao vazio. Ao contrário, já são consequência do próprio vazio!

    ResponderExcluir
  3. Nem destino, nem maldição. Inquietação! Isso sim. A busca incessante pela certeza, simplesmente por acreditarmos mais nas ilusões que vemos, do que nas certezas que sentimos.Ainda que, lá no fundo tenhamos certeza de algo, muitas vezes uma ilusão que se apresente nos parece 'muito mais certa'.E assim, mesmo sabendo que o verde da grama ao lado não passa de uma ficção, nos atiramos de cabeça. Afinal, como pode uma ficção parecer tão real? E então eu pergunto: como pode a certeza de seu coração parecer tão ilusório?
    Quem sabe: de olhos vendados não se cai no poço, mas se atravessa as ilusões - que somente se apresentariam aos nossos olhos - e se deixa falar mais alto o coração - que é a expressão mais pura de nossa alma.
    Porém, concordo:não deixe a venda por muito tempo,pois quem se fecha ao mundo e ao meio, enclausura sua alma. Tem que se descobrir um meio termo. Quem sabe, um meio termo entre o 'eu' e o 'mim'.

    ResponderExcluir
  4. Nem destino, nem maldição, Inquietação.
    Causa ou consequência?
    Acreditar mais nas ilusões ou nas certezas? Qual é o real? Vive-se a certeza ou a ilusão?
    Olhar pelas frestas da vida, por cima (ou em cima?) do muro... Viver ou assistir?

    "Muros longínquos
    Na polidura esgarçada dos osnhos.
    Tão altos. Fulgindo iluminuras.
    Muros de como te amei. Brindisi.
    Altamura.
    E muros de chegança. De querença.
    Aquecidos. Anchos.
    O tenro entrelaçado à tua fala:
    Teu muro de criança.

    Muros dilatados de doçura.
    Romãs. Dálias Purpúreas.
    Irmãos adultos
    Recostados na manhã de chuvas.
    Muros do ancantado da luxúria.
    Fendas. Nesgas de Maciez.

    Muros prisioneiros de seu próprio murar.
    Campos de morte. Muros de medo.
    Muros silvestres, de ramagens e ninhos:
    Os meus muros de infância. Esfacelados.
    Muros de água. Escuros. Tua palavra:
    Um mosaico de vidro sobre o rosto altivo.
    Devo me permitir te repensar?

    Muros intensos
    E outros vazios, como furos.
    Muros enfermos
    E outros de luto
    Como o todo de mim
    Na tarde encarcerada
    Repensando muros.
    A alma separada de ti
    Vai conquistar a chaga de saltar.

    Muros agudos
    Iguais à fome de certos pássaros
    Descendo das alturas.
    Muros loucos, desabados:
    Poetas da Utopia e da Quimera.
    Muro máscara disfarçado de heras.
    Muros acetinados iguais a frutos.
    Muros devassos vomitando palavras.
    Muros taciturnos. Severos.
    Como os lúdicos pensadores
    De um sonhado mundo.

    Muros castos e tristes
    Cativos de si mesmos
    Como criaturas que envelheceram
    Sem conhecer a boca
    De homem e mulheres.

    Muros escuros, tímidos:
    Escorpiões de seda
    No acanhado da pedra.

    Há alturas soberbas
    Danosas, se tocadas.
    Como a tua própria boca, amor,
    Quando me toca.

    Muros cendrados.
    De estio. De equívoca clausura.
    Lá dentro um fluxo voraz
    De sentimentos, um tecido
    De escamas. Sangue escuro.
    Lá. Depois do muro.

    Criança me debrucei
    Sobre a tua cinzenta solidez.
    E até hoje me queima
    A carne da cintura."
    Hilda Hilst

    ResponderExcluir
  5. Ola Simone. Bom saber que visita o Cardiotopia, sinta-se em casa. Gosto de suas inquietacoes, quem se pergunta smepre esbarra nas respostas. Beijo.

    ResponderExcluir
  6. Meu cantinho sendo visitado e apreciado em Portugal? Que coisa boa! Obrigada!
    Outro beijo.

    ResponderExcluir