06 março 2007

no fundo do meu olho é que mora a coisa

Estou lúcida pra caralho. Banho frio, leite quente com canela, depois deito, depois leio, depois durmo, depois acordo e passo dias sem saber como eu estou passando os dias. Preciso tanto, bicho. O ar que a gente respira. A biosfera. Tô parecendo tão igual. Que nem chuva de verão. Espio pela janela. Céu avermelhado, nuvens quase lilases no horizonte. Sen-tido! Quase sinto meu corpo inteiro parecendo novo. Meu coração é novo. Mas eu estou em busca mesmo é de uma mente nova. No fundo do meu olho é que mora a coisa. Será que isso me dispensa de servir à pátria?

O pensamento é mesmo solitário. E o amor significa coisas inteiramente diferentes dentro de cada um. E reinventa nossas necessidades. Se você gosta de certezas, talvez o amor não seja lugar em que se deva entrar. Os pensamentos ficam desconjuntados. E sempre me escapa a frase quase perfeita. As palavras tropeçam. Eu tropeço. Mas a música me envolve. Me leva leve. Sabe quando você sente saudade, saudade mesmo, e começa a ver a pessoa em todos os lugares?

Talvez a ciência tenha razão e o amor seja uma loucura quimicamente induzida, que seja eterno até que o nosso corpo desenvolva imunidade às substâncias. Explicação certinha essa, não cola. Só o que cola é o amor. O amor gruda. Grude que eu gosto.

Palavras enviadas numa carta. Eu gostaria de dizer muitas coisas, mas acho que perdi o caminho e perdi minhas palavras.

Querido Dom Quixote, todos os cavaleiros andantes já foram pra caminha. Não há mais Dulcinéias acordadas.

Espio pela janela. Céu, lua. Eu.

Espere por mim, minha Dulcinéia!

6 comentários:

  1. Não penso em entender o que seja a coisa no fundo do teu olho, nem quero, nem preciso. Mas esse lugar, tão ímpar e ambicionado a ser habitado, faz-me pensar ser a coisa algo assim indefinido, que transmuta tudo em poesia e lindeza. E você, quando olha, presenteia a quem está na tua mira. E só bastava este tom mel. “Eu gostaria de dizer muitas coisas, mas acho que perdi o caminho e perdi minhas palavras.”

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  2. No fundo, tudo o que você diz é tão parecido com aquilo que todas nós sentimos. É como se você decifrasse cada pessoa que vem aqui, mas, no fundo, você está falando é de você.
    Ah, meu nome é Dulcinéias. hehehe

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  3. Olhos cor de mel. Mel que gruda, assim como o amor. Você é um amor!
    É canto de sereia. Canto que dói.
    Minha dor é "de verdade". Segundo uma "menina", a dor é mais forte, maior, não de verdade ou de mentira. Não posso mensurar a que sinto... nem ninguém. Não há culpa.
    Estou na rua, num beco sem saída.
    Meu Dom Quixote pede socorro. Ele suplica a proteção e a intervenção de meu Sancho Pança.
    A inquietação perdura... Até quando, não sei...
    Mas tentarei ser feliz enquanto a tristeza estiver distraída.
    “Eu te peço perdão por te amar de repente(...)” (Vinícius de Moraes)

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  4. Adorei isso.
    “ o amor reinventa nossas necessidades”
    Procuramos alguém que faça o coração acelerar.
    Mas na verdade queremos uma pessoa que acalme o coração,
    e incendeia o desejo.
    Não gostamos de certezas, elas não possuem magia, e a magia encanta, e faz canto..
    O maravilhoso de entrar numa gruta e não saber o que encontrar, e depois deslumbrar uma paisagem linda.
    Assim como o fundo dos seus olhos....
    Bjs , eu pousei aqui.

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  5. passei pra dizer que sempre venho por aqui, apesar de não sinalizar...

    quanto ao amor: fluir é preciso, entender não é preciso...

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  6. "O amor gruda...", isso é ótimo.

    Estou adorando ler seus textos... mto bom... alguns falam muito ao meu coração.

    Bj!

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