23 dezembro 2008

onde as borboletas estão

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Noite alta, certa loucura, nenhum álcool e muito amor no coração.
Eu gosto quando você diz
sabe, nunca tive um papo assim que nem o que tenho contigo. E de quando você diz calma, vem cá e me abraça inteira e me faz deitar a cabeça em seu ombro, e tudo passa assim desse jeito.
Não, não quero nada nem preciso se estiver contigo.

12 dezembro 2008

a língua lambe

Ilustração de Milton DacostaA língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

(fonte - http://www.memoriaviva.com.br/drummond/verso.htm)

Eu queria muito ser confortada por você. Lambida por você. Aconchegada.

17 novembro 2008

o que não cabe na palavra

"Conversar é versar juntos", eu li do Gaiarsa. Eu faço uma estrofe, ela faz outra, e assim formamos uma poesia. Nossas descobertas e o nosso envolvimento nesse clima de respeito e liberdade. É gostoso nos descobrir sem pressa...

Um tesão esse momento onde estou totalmente voltada para ela . Para tudo o que eu amo nela... O sorriso, o jeito de andar, o cheiro. Ai, o seu cheiro! Nossa intimidade é poema do começo ao fim. Todos os momentos contigo são intensos. Estou muito envolvida. Como nunca estive antes. Há muita leveza nessas palavras.

No meio de tantas palavras, será que consigo realmente revelar a origem mais autêntica do meu desejo, dos prazeres e atos? É que amor não se esconde e viver esse amor é experimentar o sentido e a doçura da vida. Por esse motivo é que eu quero rasgos de lirismo incoerentes, quero ser ridícula como as cartas de amor ridículas do Fernando Pessoa. Mas "não facilite com a palavra amor", adverte o Carlos Drummond. Eu sei, Carlos. Eu tento. É que quando penso nela, sinto os passos leves do vento. Nenhum estímulo é mais determinante para o meu sorriso do que pensar nela.

Num mundo de pessoas tão fragmentadas, onde são cultivados os prazeres efêmeros e os relacionamentos se tornam cada vez mais descartáveis, vemos a grande maioria das pessoas entrando em relacionamentos com falsas expectativas. De mãos dadas, porém, nós seguimos na contra-mão desse mundo!

Fico aqui com o gosto da boca e do cheiro. Mas também tem a taquicardia, o frio na espinha, o vermelho no rosto, o brilho nos olhos e o sorriso na boca. A felicidade me enche o peito. Mesmo quando estamos longe. Mesmo que seja a maior barra "tar" longe dos sorrisos, dos carinhos dela. Da sensibilidade. O olhar dela suaviza a minha vida. Diante desse olhar, eu me curvo e me confesso apaixonada.

Ei, você! Eu desafiaria mil perigos para ver você, inclusive pegaria uma borboleta pra você... Ou colocaria uma estrela em seu bolso.

Perdoe a minha precariedade e as minhas palavras desajeitadas.

Te quero imensamente. Meu coração bate forte.

21 outubro 2008

a fruição da linguagem

Um dos hábitos mais gostosos é o da leitura simultânea, descontraída, de vários livros, sem a preocupação de acabar a leitura. Mas o que eu acho gostoso mesmo é a fruição da nossa linguagem. Eu piro por essa leitura demorada - que me deixa com a calcinha melada só de imaginar...

11 setembro 2008

astronomia amorosa

Em teu corpo
- agrupamento de estrelas
(astrônomo)
vejo constelações:
uma está
na ponta de tua língua
outra
a oeste de teus olhos
outra
pousada no ombro esquerdo
outra
na curva de tuas nádegas
outra
ao norte do seio se irradia
e na panturrilha esquerda
outra pequena brilha.

No sexo
uma estrela de 5ª grandeza
incendeia a galáxia inteira.

(Affonso Romano de S'antanna.)

Tema nenhum além do amor - tecendo, juntando. Amor que tudo enlaça.


19 agosto 2008

procura da poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)

18 julho 2008

amando

Amar alguém que te ama. Querer alguém que te quer.
Tem coisa mais gostosa na vida do que o amor?

11 junho 2008

quem não tem namorado

Quem não tem namorado tirou férias do melhor de si. Namorado é a mais difícil das conquistas. Necessita de adivinhação, pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil! Namorado é mais difícil porque não precisa ser o mais bonito e sim quem se quer proteger, mas, quando chega, a gente treme, basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode estar sem namorado.

Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho e se acaricia sem vontade virar sorvete ou lagartixa, quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda rápida, escondida, fugidia, impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de olhar encabulado; de carinho escondido ou flor catada no alto do muro e entregue de repente; de gargalhada, quando fala ao mesmo tempo ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico, bugre, foguete interplanetário, ou carrossel de parque suburbano.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado e comprar roupa juntos.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor e de ficar horas olhando o outro, abobalhado de lucidez.

Não tem namorado quem não tem música secreta, não dedica livros, não recorta artigos e não se chateia com o fato do seu bem amado ser paquerado.

Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar; quem não passa ou recebe trote.

Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou ao meio-dia em dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações e quem só pensa em ganhar.

Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e tem medo de mostrar que se emociona.

Se você não tem namorado é porque ainda não descobriu que amar é alegre mas você pesa duzentos quilos de grilos, ponha a saia mais leve, aquela de renda de harpa e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão soasse a flauta e do céu baixasse uma nuvem de borboletas, cobertas de frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu nem cresceu aquele pouco necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

Enloucresça!...

(Artur da Távola, Amor a sim mesmo.)

15 maio 2008

amor atravessando seu próprio impulso

É sempre por meio do amor que encontro meu lugar no mundo. No ato de amar, na conversa, no toque. Intimidade, sexo, privacidade são essenciais no amor, em parte porque é quando estamos nuas e juntas, sem mais ninguém por perto que o nosso "eu" vem apreciar nossa imperfeição e a importância dessa identidade compartilhada com a pessoa amada. Amar sensualmente não é só excitação e desejo, mas expressão de ternura, admiração, respeito, timidez, confiança. Confiança mesmo. Demonstração de amor. O desejo de abraçar, acariciar, de ser íntima... Vontade de sermos vulneráveis, apesar de alguns medos. A fala amorosa. A timidez da expressão inarticulada e sem vergonha alguma.

Eu não gosto muito de acreditar em tudo o que se teoriza sobre o amor. Não curto livros nem fala de pessoas que tratam o amor como assunto. Guias, mapas. Gosto de poesia, poema, letra de música, crônicas, contos, flores. Gosto de fazer amor. Gosto com um gosto gostoso. Gostar gostoso. Amor gostoso.

Com meus dedos na ponta das palavras, a linguagem treme de desejo.

O "sujeito" apaixonado quer alimentar o ser amado do seu amor, de si, deles, infinitamente. Barthes escreveu que "ninguém tem vontade de falar de amor, se não for para alguém."

* Agradeço a valiosa colaboração da magrinha.

08 maio 2008

a nudez, no amor, não satisfaz nunca...

Quero dizer que te amo só de amor. Sem idéias, palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos, sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.

São sombras as palavras no papel. Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer. Apenas sombras as palavras no papel.

Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes. Fátuas sombras as palavras no papel.

Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen. São versos que pulsam, gemem e fecundam. Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.

Quero da vida as claras superfícies onde terminam e começam meus amores. Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque ébrio e lúbrico. Quero genitais todas as superfícies.

Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre antes, não depois da excitação. Meu grande amor, o infinito é um recomeço. Não há limites para se viver um grande amor. Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo. Não há limites para o fim de um grande amor.

Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas. A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro, para inventar deuses na solidão do nós. Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.

Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.

O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto.

(texto de Roberto Freire)

18 abril 2008

relâmpago íntimo

Eu desejo paz e conforto. Gostaria de ter respeito amoroso pela outra pessoa todo o tempo. É um exercício diário.
Penso sempre, sinto sempre; mas não querer, sem que não se queira, é o que aprendo com o que sinto e penso.
No exterior do interior da minha alma é onde mora o que sinto. Imaginação acordada. E tudo o que eu imagino e sonho tem você. É com os pés no chão que eu sonho... Com os braços te abraçando. Nessas horas sei mais de mim do que nunca soube.
Você exerce sobre mim uma atração irresistível, como a da Terra em relação à Lua.

08 abril 2008

manifestações de amor

Uma das mais deliciosas manifestações de amor é a falta de respeito.
Mário Quintana

11 março 2008

se você soubesse


Nina Simone - If You Knew

If you knew how I missed you
You would not stay away today
Don't you know how I love you
Stay here, my dear, with me

I can't go on without you
Your love is all I'm living for
I love all things about you
Your heart, your soul, my love

I need you here beside me
Forever and a day a day
I know whatever betides me
I love you, I love you, I do

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04 março 2008

cuidados essenciais

Companheirismo, carinho, sexo, amizade, viver juntos, compartilhar interesses e todas as outras coisas de plenitude impossível sem o amor.

"Diga lá, meu coração
Da alegria de rever essa menina
E abraçá-la,
E beijá-la.
Diga lá, meu coração
Conte as histórias das pessoas
Nas estradas dessa vida.
Chore essa saudade estrangulada
Fale, sem você não há mais nada.
(...)
Diga um verso bem bonito e de novo vá embora
Diga lá, meu coração
Que ela está dentro em meu peito e bem guardada
E que é preciso
Mais que nunca prosseguir..."

27 fevereiro 2008

papel de seda perfumado

O Nelson Rodrigues dizia que "não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo". Embora eu adore me divertir com as letras dele, não concordo com todas elas. Não se pode mesmo amar e ser feliz ao mesmo tempo?
A janela está aberta. Sopra no meu rosto um vento úmido e noturno. O vento diz alguma coisa e eu não traduzo as palavras proferidas. Há pontos de sentimento pela outra pessoa que não precisam ficar claros para existir. Eles existem. E talvez seja mais importante compreender a maneira pela qual a outra pessoa gosta de receber amor. Mas isso são divagações... Fato é que nossas almas e nossos corpos misturam-se. Interpenetram-se. E nosso jeito é um jeito de acalmar, dentro do maior tesão. Umidade, unidade.
Quero mesmo é ler poesia para ouvidos atentos. Seus olhos atentos.
Se contasse, a história desse encontro daria um romance. Ou uma fita de cinema.
E a noite... é como se a noite fosse o mundo.

"Essa que passa por aí, senhores..."
(excerto de "Santa", do sonetista Hermeto Lima)