17 fevereiro 2006

umidades

"Dear Clients, we express solidarity with the Islamic & Egyptian community. Carrefour don't carry Danish products." O Carrefour decidiu boicotar os produtos dinamarqueses em alguns mercados islâmicos. Não seria o "cartoon" burlesco característico da imprensa nos países onde há liberdade de expressão? A sátira tem restrições? Os cartoons são ofensivos, mas expressam liberdade? Os protestos são violentos, mas mostram grande indignação? Estão acumulando pólvora pelo planeta. Até agora não entendi qual o privilégio de sermos seres pensantes.

Em nosso próprio país não seria mau viver em paz. Pois não basta ter que aturar a perfídia de uns, as epidemias, as sêcas, a fome, as enchentes, a falta de uma boa educação, a saúde pública doente, as proezas do governo, da câmara, e tantas outras coisas que aborrecem e exaurem esse povo?

E nos cafés da cidade, mesinhas fora, mesinhas dentro, gente passando pela calçada e olhando pra dentro do café que olha de volta, e os caros na avenida, carros parados diante do café. E o café expresso da livraria Cultura!? Santo Grão. Santo café. São Paulo. Em meio ao clima mutante, à poluição e à agitação cultural, todo dia um motivo novo para experimentar e me apaixonar por essa cidade.

Bate a impressão de estar inventando recordações. E colorindo outras. Dando sabor. Vinho. Cor de vinho. E conversamos sobre livros, eu te falo sobre os apócrifos, o amor, a merda da política, o amor, a descrença no amor, o egoísmo, o amor, a velocidade das relações, o amor, os afetos, as enrolações, o amor, de mão em mão, o amor, de corpo em corpo. Só gostaria de olhar o acaso. Te contei como eu vejo as ondas? As ondas vindo cada vez mais fortes, uma após a outra, intervalos cada vez mais curtos. Nunca vou me cansar de sentir o mar.

De onde eu estou, duas coxas. Incidentes contornáveis. Incontornável mesmo é esse sorriso. Me vira pelo avesso... Mas as coxas cruzadas uma sobre a outra me trazem você. E me rasgam a alma. Preciso te encontrar. E ter esse sorriso que me acerta e é como se nada na vida pudesse estar fora de lugar. E, inventando minhas recordações, tenho a idéia de te levar qualquer coisa. Um presente. Penso se não seria careta fazer isso. Quando nos encontramos, qualquer coisa parece mínima diante desse sorriso sorrindo pra mim. Daqui a vários anos, eu vou olhar para trás e me lembrar desse momento, do dia, do minuto, do segundo em que eu me apaixonei por você. Você passa as mãos pelo meu rosto e me beija. Tudo é incrivelmente natural. Minha mão por baixo do pijama de algodão, acaricia o ventre e depois os biquinhos duros, respondendo aos meus carinhos. Quando você coloca sua mão sobre a minha, é uma sensação tão gostosa que fecho e aperto os olhos para ela nunca passar. O álcool faz maravilhas com as pessoas. Vulnerabiliza. Torna-as ainda mais sinceras. Intensifica. Sensualiza. Você tem poder maior que o álcool. E me introduzo em seus esconderijos. E derramo minhas umidades sobre você. As ondas. E estamos em paz. E eu não quero me livrar (parafraseando o poeta) "do prático efeito das tuas frases feitas, nem das tuas noites perfeitas. Perfeitas".


"Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser sem que me olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando."
(Pablo Neruda)